Raul Seixas, morto, é mais artista que Ed Motta vivo. Por Nathalí

Atualizado em 25 de fevereiro de 2022 às 15:50

Atacar publicamente alguém que já morreu é um dos papéis mais covardes aos quais um ser humano pode se prestar. Não apenas porque a pessoa atacada já não pode se defender, mas também porque indica certo ódio por parte de quem ataca, um tipo de ódio tão horripilante que não morre nem mesmo décadas depois da morte do próprio ser odiado.

Esse parece ser o caso de Ed Motta, que levou uma invertida de Scarlet Seixas após atacar publicamente a memória de seu pai, Raul Seixas.

“Não tenho medo nenhum de falar contra Raul Seixas, era um put* de um merd*, ruim pra caralh* musicalmente, ruim pra caralh* de tudo. Quem fazia o que esse cara tinha de melhor, que era o texto, era o Paulo Coelho, então esse cara era um idiota”, bradou, arrotando a arrogância que lhe é característica durante uma live em seu canal.

Alguém com um pouco mais de sensibilidade – bastaria mesmo um pouco – seria capaz de perceber que não é uma questão de medo, mas de respeito. É uma questão, na verdade, de colocar-se no seu próprio lugar: porque até um surdo de nascença sabe que Raul, morto, é muito mais artista do que Ed Motta vivo, e isso não é um ataque, é um fato.

Combater a mentira de que Paulo Coelho é responsável pelas letras mais geniais de Raul Seixas é tão óbvio que chega a ser covarde – e a covardia, amigos, eu deixo pro Ed. Basta dizer que Ouro de Tolo, Meu Amigo Pedro e Por Quem os Sinos Dobram são de autoria completa do baiano e imortal Raul Seixas.

Também não faz sentido dizer que o que Raul tem de mais brilhante são as letras. Sim, são mensagens tão simples quanto profundas que Ed Motta jamais comporia (se não é sequer capaz de compreender), mas não são o que Raul tem de mais brilhante.

O que Raul tem de mais brilhante é ele mesmo, sua figura, o que representa para a música e sobretudo para o rock brasileiro, sua história e o que acrescentou no mundo, talvez o que Walter Benjamin chamaria de “aura” da obra de arte, algo que alguém tão vazio como Ed Motta jamais poderia compreender – muito menos sentir, ou sequer reproduzir.

Ed Motta não tem aura. Como alguns outros que são músicos, mas jamais serão artistas – temperados sobretudo por um pedantismo patético – ele acha que ser “bom musicalmente” é apenas questão de técnica, e nenhum achismo poderia ser mais ingênuo para um pretenso artista.

Fosse essa a questão, Ed Motta teria a chance de ser imortal como Raul. Mas não: sendo sobrinho de Tim Maia, ninado com soul e folk, multi-instrumentista, estudioso de música erudita em Nova York e o escambau, ele não conseguiu chegar aos pés do roqueiro baiano, e isso deve doer pra caramba.

A música que Ed Motta faz, por melhor executada que seja, não toca (a alma), e nada deve ser tão frustrante para um pretenso artista do que não tocar. Apesar de toda a sua “sofisticação harmônica”, ninguém chora com sua música. Ninguém se impressiona de fato com seus agudos (que são, na verdade, chatíssimos). Ninguém certamente irá visitar seu túmulo no dia do seu aniversário décadas depois de sua morte, e ninguém sequer se prestará a xingá-lo em uma live quando ele já não puder se defender.

É certamente por esse despeito que Ed Motta fala de Raul com tanta ira. É a inveja, não o desprezo (jamais o desprezo) que desperta ira.

Dizer que os fãs de Raul são “simplórios” é, para quem sabe ouvir, o mesmo que dizer que um artista universal, atemporal e imortal não precisa falar difícil ou estudar música erudita para tornar-se, em si mesmo, um acontecimento.

O adjetivo, entretanto, foi tão mal empregado quanto os agudos: a música de Raul é simples, jamais simplória. A arte que move é simples, mas não simplória, e Ed Motta além de tudo e apesar dos diplomas também não sabe usar a (riquíssima) língua portuguesa.

É por tudo isso que Scarlett Seixas pegou leve, apesar da absoluta elegância:

“Há um lugar para todos os artistas na mesa de banquete da música. Não vejo Ed Motta nesta mesa, pois a história dele é degradar alguns dos maiores artistas. A história me faz questionar sua autenticidade”, escreveu, em defesa à memória do pai.

Questionar é bondade dessa mulher tão educada: a autenticidade de Ed Motta não existe, e é por isso que ele nunca se sentará nessa mesa: não importam quantos diplomas, quantas temporadas em Nova York, quantos discos em inglês ou quantos ataques apelativos a artistas de verdade nas redes sociais.

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