Rayssa Leal tem o direito de expressar sua fé. Por Nathalí

Atualizado em 29 de julho de 2024 às 13:43
Rayssa Leal manda mensagem religiosa em Libras nas Olimpíadas

Uma menina nascida no país do fundamentalismo religioso onde o Estado é tudo, menos laico, escolhe expressar sua fé representando o Brasil nas olimpíadas e corre o risco de ser punida.

Rayssa Leal, que levou o bronze, disse em libras uma prece: “Jesus é o caminho, a verdade e a vida”.

O comitê olímpico internacional não foi capaz de admitir a expressão da menina, que corre o risco de levar uma advertência, embora, felizmente, não esteja sujeita a perder a medalha que conquistou.

Ainda assim, é chocante que o direito constitucional de cada cidadão e cidadã de professar sua fé seja ferido sem qualquer cerimônia.

Eis a regra: todos atletas podem sofrer punições por falarem sobre religião ou política, sob a justificativa de que, no evento, participam competidores de crenças e culturas diferentes.

Isso é ótimo e se chama diversidade cultural e religiosa. As diferenças, desde que respeitadas, não são um problema.

Respeitar as diferenças não significa proibir as pessoas de expressarem a sua fé – no Brasil, um direito constitucional de todas e todos.

É, aliás, justamente o contrário: olimpíadas não são disputadas e vistas por robôs, mas por seres humanos, que levam para o pódio sua bagagem cultural, posicionamento político e crença religiosa.

Pra quem diz que esporte não é política, ledo engano. Onde há seres humanos, há política. E crenças. E culturas. E posicionamentos.

Para além disso, punir uma menina por fazer uma oração é, no mínimo, intransigente.

A essa altura você pode se perguntar: e se a oração fosse pra Exu?

Concordo que, caso fosse assim, a punição certamente já teria chegado, tendo em vista a intolerância religiosa que marca o Brasil.

Mas por que, afinal, este fato deve ser considerado para punir uma atleta por ter fé?

Humanizar competições é humanizar atletas. Rayssa, assim como qualquer outra competidora ou competidor, tem o direito de expressar sua fé.

O exagero do Comitê Olímpico Internacional deve ser revisto não apenas para fazer justiça à skatista, mas também por abrir precedentes para que outras atletas possam exercer seu direito de expressão.

Que possam ser gente, enfim.