
A oposição global ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem se fortalecendo em diferentes partes do mundo. As críticas se intensificam por causa de suas políticas de guerra comercial, medidas antimigratórias, ataques a antigos aliados e ameaças de anexações territoriais. Com informações da BBC News Brasil.
Veja três sinais claros dessa reação internacional contra Trump:
1. Voto contrário em países aliados
O Canadá e a Austrália deram sinais concretos de rejeição a Trump em eleições recentes. Em abril e maio, os partidos conservadores liderados por Pierre Poilievre (Canadá) e Peter Dutton (Austrália) foram derrotados nas urnas. Ambos apresentavam posturas alinhadas às de Trump e eram favoritos até poucos meses antes das votações.
Os vencedores foram os atuais partidos de centro-esquerda: no Canadá, Mark Carney substituiu Justin Trudeau e prometeu enfrentar Trump, inclusive rebatendo a ideia de o Canadá ser transformado no “51º estado americano”; na Austrália, o primeiro-ministro Anthony Albanese também foi considerado mais preparado para lidar com o republicano.
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“Poilievre foi observado como próximo de Trump”, analisou Steven Lamy, professor emérito da Universidade do Sul da Califórnia, à BBC News Mundo. Segundo ele, a provocação de Trump ao sugerir que o Canadá fosse anexado pelos EUA irritou profundamente os canadenses.
Na Austrália, pesquisas indicaram que os eleitores viam Albanese como mais confiável para lidar com Trump. Já em outras regiões, o cenário foi diferente: o equatoriano Daniel Noboa, que flertou com Trump, foi reeleito; na Romênia e na Inglaterra, populistas e representantes da direita radical venceram.
Mesmo assim, o recado das urnas em países tradicionalmente aliados dos EUA pode indicar um alerta para o futuro. “Os partidos políticos adotarão posturas de oposição [a Trump], se isso servir aos seus propósitos”, afirmou Lamy. “Mas precisam ter cuidado, pois os EUA ainda são uma potência econômica e normativa.”
2. Perda de prestígio internacional
Outro sinal da rejeição a Trump é o declínio da imagem global dos EUA. Pesquisa da Ipsos feita em 29 países revelou que, em 26 deles, caiu a confiança de que os EUA terão influência positiva no mundo nos próximos anos. A média global passou de 59%, em outubro de 2024, para 46% em abril de 2025.
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O Canadá teve a maior queda (-33 pontos), seguido pela Holanda (-30). Na América Latina, o México perdeu 21 pontos, chegando a 46% de confiança; Argentina, Brasil, Colômbia, Chile e Peru também registraram queda.
“Nossa pesquisa reflete uma percepção negativa de Trump em todo o mundo”, disse Clifford Young, presidente de pesquisas da Ipsos, à BBC. Para ele, há medo sobre o que um novo governo Trump pode significar, tanto política quanto economicamente.
Um dado marcante do estudo: pela primeira vez em dez anos, a China foi vista como influência mais positiva que os EUA, com 49% das menções — alta de 10 pontos desde outubro. Isso reflete o crescente ceticismo em relação às ações de Washington e uma reorientação de simpatia geopolítica.
3. Queda no turismo internacional
Com Trump de volta ao centro do poder, o número de turistas estrangeiros nos EUA também apresenta queda — e isso pode afetar a economia americana.
A consultoria Tourism Economics, ligada à Oxford Economics, projetava crescimento de 8,8% nas visitas internacionais aos EUA em 2025. Em abril, reverteu a estimativa: agora prevê queda de 9,4%.
A Páscoa tardia explica parte da retração em março, mas a tendência preocupa. A consultoria aponta que políticas migratórias, discursos hostis, variações cambiais e incertezas gerais impactam o sentimento dos viajantes.
O Canadá aparece novamente como o país com a maior queda de turistas, com retração de cerca de 20%. Também houve redução nas reservas de voos vindos da Holanda, Alemanha, México, Equador e outros.
Clifford Young relaciona diretamente essa mudança à perda de prestígio dos EUA e ao impacto das políticas do republicano: “As pessoas enxergam essas medidas como confrontos diretos com seus países e ajustam seus comportamentos a isso.”