Reações à execução de vereadora acuam Planalto. Por Helena Chagas

Atualizado em 15 de março de 2018 às 20:04
Michel Temer. Foto: Reprodução/YouTube/TVFolha

Publicado n’Os Divergentes

POR HELENA CHAGAS

Quem mandou botar a mão nessa cumbuca? Foi o governo Michel Temer que, por livre e espontânea vontade – e marquetagem – resolveu decretar intervenção no Rio e puxar para seu colo a obrigação de resolver, ou amenizar, o gravissimo problema da segurança no estado. Agora, depois da comoção e das fortes reações ao brutal assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o Planalto está muito assustado.

Assustado sobretudo com a possibilidade de o episódio servir para mostrar que o rei esta nu, ou seja, a obviedade de que questões sérias ligadas à violência e ao crime organizado não se resolvem fazendo reuniões e aparecendo na TV.

Não foi por acaso que Michel Temer mandou às pressas para o Rio o ministro da Segurança, Raul Jungmann, com a missão de cobrar das forças da intervenção e até da PF o esclarecimento do crime o mais rapidamente possível. É o único jeito de o governo federal manter a moral de sua intervenção – que, a esta altura, corre sério risco de desmoralização.

Não é culpa dos militares interventores, que chegaram ontem ao Rio e ainda tentam se organizar. Mas eles podem acabar descobrindo que foram, numa jogada de improviso, colocados no lugar errado na hora errada.

O fato de a vítima do crime brutal, com todas as características de execução, ser mulher, negra, ativista de esquerda e contra a intervenção no Rio deixa o governo Temer ainda mais vulnerável politicamente. Quem assistiu à sequência de discursos na sessão da Câmara dos Deputados em homenagem à Marielle saiu dali com a certeza de que esse  lamentável episódio ainda vai render muito, e que pode até vir a ser o rastilho de pólvora de algo maior.