Reforma da Previdência de Bolsonaro não é a mesma de sua equipe econômica. Por Helena Chagas

Atualizado em 14 de janeiro de 2019 às 16:32
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Foto: Marcos Alves / Instituto Millenium | Montagem

Publicado originalmente no site Os Divergentes

POR HELENA CHAGAS, Jornalista

O establishment econômico, mercado à frente, anda tão ansioso para acreditar que o governo pode dar certo que, por ora, é bem capaz de fingir não ter ouvido que a reforma da Previdência anunciada por Jair Bolsonaro no SBT ontem à noite é mais branda até do que a de Michel Temer.

A esse público, o presidente deu, ao mesmo tempo, uma notícia boa e uma ruim: a primeira, de que a reforma pode ter a tramitação acelerada por aproveitar o projeto de Temer que já está pronto para ser votado na Câmara; a segunda, que a idade mínima, de 62 anos para homens e 57 para mulheres, será menor do que a que está na proposta atual. O que, na visão dos especialistas em Previdência, atenua muito seus efeitos no ajuste das contas públicas nos próximos anos.

A equipe de Paulo Guedes foi pega de surpresa pelo anúncio de Bolsonaro, que, na verdade, nem recebeu ainda a proposta preparada por eles. Alguns de seus integrantes, que jamais vão falar isso de público, acham que houve precipitação. Afinal, o beabá da negociação política ensina que sempre se deve entrar no debate pedindo mais para, ao longo das discussões, concordar em levar menos. Cabe ao Congresso, e não ao presidente, atenuar versões da reforma da Previdência.

Mas Bolsonaro é Bolsonaro. E esse primeiro gesto terá sido um aperitivo do que vem por aí e uma confirmação do que já se suspeitava: a reforma da Previdência do presidente da República não é a mesma reforma de sua equipe. Maiores detalhes ainda são desconhecidos, mas a idade mínima pode ser apenas o início da controvérsia. O que será feito, por exemplo, com a Previdência dos militares, fonte de boa parte do déficit do setor?

Esta e outras perguntas vão demorar para serem respondidas. E o mercado terá suas razões para preocupar-se.  O palpite geral é que vencerá a discussão aquele que teve 58 milhões de votos em outubro passado.