O Globo publica hoje editorial em que ataca os deputados por não entregarem a reforma da Previdência, como os banqueiros e a velha imprensa exige.
“Vários partidos supostamente próximos ao governo — como DEM, PP, PRB, SD e outros do ‘centrão’ —, inclusive a legenda do presidente Bolsonaro, o PSL, ajudaram a oposição na manobra de inverter a pauta, para dar prioridade ao projeto da emenda constitucional (PEC) do Orçamento impositivo. Tudo para obstruir, retardar a tramitação das mudanças no sistema previdenciário, sem as quais a economia não decola, como se está vendo”, destaca.
Nos últimos três anos, para ficar no período de tempo curto, os veículos da família Marinho defenderam o impeachment de Dilma Rousseff como um marco para a retomada da economia.
Através de editoriais e reportagens, pressionou o Congresso Nacional a aprovar duas medidas que retiraram direitos dos trabalhadores como condição para a recuperação econômica: a terceirização irrestrita e a reforma trabalhista.
Os empresas jorrariam como petróleo: desde então, o índice de desemprego só aumentou.
De acordo com o jornal, o estabelecimento de um teto para gastos sociais seria a medida aguardada pelos investidores para despejarem dinheiro no Brasil e os empregos voltariam.
Como sabemos, não foi o que aconteceu.
Por que a Globo insiste tanto nesta pauta regressiva?
Uma resposta possível é que os ganhos do grupo com as chamadas operações de hedge — decorrentes de oscilação da Bolsa e da variação cambial — aumentaram nos últimos anos, conforme se pode ver pelo balanço da empresa.
A receita com publicidade diminuiu, mas os lucros do grupo se mantiveram, e em alguns anos até aumentaram.
Na Globo, chama a atenção que não seja dada voz a ninguém que tenha uma posição crítica à reforma da Previdência.
Com isso, a emissora deixa de fazer jornalismo, para engrossar o intenso lobby pela reforma da Previdência, traduzido pelas palavras de João Doria em um encontro com executivos de multinacionais:
“Usem a força que têm, individual ou corporativa, para falar com os parlamentares, que são seus amigos ou que vocês, na condição de eleitores, têm direito de cobrar e impedir que votem contra a reforma”.
Nesta manhã, o presidente da CCJ, Felipe Francischini, tentou acelerar a tramitação do projeto, como quer a Globo, mas só conseguiu confusão e teve que suspender a sessão.
Na democracia, o parlamento tem liberdade para votar de acordo com a vontade de seus representantes, em princípio sintonizada com o interesse dos seus eleitores.
Veja, por exemplo, a Inglaterra, que apesar de toda pressão se mantém firme de não aprovar o acordo para a saída da União Européia.
É uma novela que se arrasta há meses.
Há pressões a favor e pressões contra. Mas os meios de comunicação não se destacam entre os lobistas de um lado ou de outro.
Fazem a cobertura, publicam análises e dão voz e espaço a correntes diversas. Mas é impensável que ordenem aos parlamentares que votem assim ou assado.
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