Regina Duarte diz que foi “apedrejada”, nega que defendeu a ditadura e se desculpa se pareceu “endossar a tortura”

Atualizado em 22 de maio de 2020 às 9:02
Sentindo o pum do palhaço

Regina Duarte diz em artigo no Estadão que a culpa por seu fracasso na secretaria da Cultura é de todo mundo, menos dela.

“Tenho sido criticada à esquerda e à direita”, afirma, recitando o mantra do isentão, algo que não se aplica à cidadã. 

Aliás, o fato de alguém ser criticado pelos dois lados não significa uma virtude. A pessoa pode simplesmente ser uma idiota, como é o caso de Regina Duarte.

Eis a Demitidinha do Brasil:

Ao aceitar o convite do presidente Jair Bolsonaro para ocupar a Secretaria Especial da Cultura, eu tinha plena consciência de que minha gestão seria alvo de críticas. Essa certeza, no entanto, nunca me desencorajou. (…)

Não são as críticas, portanto, que me surpreendem. O que me causa espanto, isto sim, é a total ausência de substância das sentenças condenatórias que me dirigem na praça pública das redes sociais – esse potente megafone usado por grupos organizados dentro e fora da classe artística. (…)

Em vez de uma discussão franca, que seria saudável, por mais altos que fossem os decibéis, o que identifiquei foi só a ação coordenada de apedrejar uma pessoa que, há mais de meio século, vem se dedicando às artes e à dramaturgia brasileira. (…)

Tenho sido criticada à esquerda e à direita, o que me coloca numa posição intermediária dessa régua imaginária. Não é um lugar de conforto. Sei disso porque foi onde sempre estive, independentemente das circunstâncias.

Nos anos 80, na pele da Viúva Porcina e integrante do elenco da novela Roque Santeiro, enfrentei a censura nos primórdios da redemocratização. Fui aplaudida.

Duas décadas mais tarde, não me abstive de alertar a sociedade sobre a ameaça que representaria para o País um governo de matiz notoriamente socialista. Fui vaiada. (…)

Amo meu país, sim, e tenho deixado isso sempre bem claro, a ponto de, numa recente entrevista à TV, ter cantado a conhecida marchinha dos anos 70, que fala de “todos ligados na mesma emoção”. Nada a ver com defesa da ditadura, como quiseram alguns, mas com o sonho de brasilidade e união que venho defendendo ao longo de toda a minha vida.

E me desculpo se, na mesma ocasião, passei a impressão de que teria endossado a tortura, algo inominável e que jamais teria minha anuência, como sabem os que conhecem minha história. (…)

O que mais me dói é ver o Brasil à mercê de uma ignóbil infodemia, termo cunhado para designar a pandemia de informações tendenciosas em que conta o viés de quem as veicula e não o factual isento, não a verdade.

O País precisa de uma política cultural que transcenda ideologias. Foi isso o que tentei colocar de pé quando acedi colaborar diretamente com o governo federal. Num país que tivesse nas comunicações uma elite pensante que não optasse pelo “quanto pior, melhor”, esse era o trabalho que deveria estar sob os holofotes da opinião pública – nunca a minha pessoa.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.