Regina Duarte e o empoderamento das tias fascistas orgulhosas de espalhar fake news. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 13 de outubro de 2018 às 21:25
“Eu sei que é fake news, mas e daí, seus malditos comunistas?”

Toda família tem sua Regina Duarte, a tia fascista que mora no WhatsApp se lambuzando de fake news e que provoca um misto de constrangimento e cefaleia.

Regina sabe que propagou uma mentira ao atribuir a “bolsa-presidiário” ao PT em seu Instagram. Está falando do auxílio-reclusão, benefício previdenciário para garantir amparo à família do detento de baixa renda.

Não é obra petista. Está na lei desde 1991. Mas divulgar uma fraude lhe dá poder e visibilidade.

Um bando de cães late em volta dela, parabenizando-a. É a glória.

Os velhos estão empoderados. Perdemos uma geração para o ressentimento. 

Foram-se o decoro, a educação, o verniz social, até mesmo a hipocrisia. A regra é ser grosso, inconveniente, orgulhoso da estupidez, do preconceito e da fraude.

Uma parenta de 90 anos, que já havia me enviado uma montagem de Marielle Franco, me mandou um texto vagabundo atribuído a JR Guzzo, ex-jornalista em atividade na Veja.

Os originais de Guzzo já são um lixo. A cópia era pior ainda. Eu a avisei que se tratava de um embuste.

A resposta cínica: “Só você sabe disso”. E lá foi ela divulgar aquela patranha aos quatro ventos.

Nelson Rodrigues era um cultor da velhice. Declarava-se uma “múmia, com todos os achaques das múmias”. Recomendava aos jovens: “envelheçam”.

O que diria agora o gênio Nelson?

Fake news no Instagram de Regina Duarte

Bolsonaro tirou do armário o pior da sua tia. O racismo, a homofobia, a inveja, a ignorância não são mais discretos.

Agora podem ser esfregados na cara dos outros.

O antipetismo vale por uma nova plástica. É o antídoto mais eficaz contra o Alzheimer e a artrite. 

Idosos que poderiam estar pensando numa aposentadoria feliz, na próxima viagem de cruzeiro, se comprazem em compartilhar memes.

Uma barreira psicológica foi rompida coletivamente nos últimos anos.

Avós passaram a ser um perigo para seus netos. Mães ensinaram crianças a mandar Dilma tomar no cu em manifestações.

Como explicar a seu filho o lema segundo o qual é preciso respeitar quem tem cabelo branco?

Em “Um Conto de Natal”, a história da redenção de um ancião mesquinho visitado por três fantasmas, Charles Dickens escreve que “a escuridão era barata, por isso Scrooge gostava dela”.

Os velhos brasileiros precisavam de luz e calor, hoje vivem com Bolsonaro nas trevas e no zap.