Regina Duarte me enganou por 38 anos e eu quero de volta o dinheiro da pensão. Por Renan Antunes

Atualizado em 25 de janeiro de 2020 às 21:02
Regina Duarte e um eleitor de Bolsonaro

Vou abrir minha alma: Rê me enganou desde que cresci até meus 70 anos. Não sei, acho que eu estava cego por aquela carinha de anjo.

Como sempre, fui o último a saber que ela era uma farsante.

Me deixou esperando, mesmo depois de cinco casamentos, para ter um caso com um capitão reformado – parece que os dois vão casar na semana que vem.

Rê (não quero dizer o nome para não ser deselegante) me conquistou em 1970, quando entrou na Globo. No mesmo ano ela casou com seu primeiro marido, Daniel.

Eu fiquei na seca. Logo ela passou a trabalhar como atriz de novelas e ficou famosa.

Ganhava superbem, ficou inatingível, mas pra mim ela era aquele sorriso. E, como nunca fui ciumento, continuei na seca.

Ela viajou pelo mundo. Visitou presidentes em toda América Latina.

Foi até Fidel Castro, para meu orgulho – mulher de fibra, guerreira, apoiadora do socialismo – assim eu a via, cego pela paixão.

Ela mantinha sua imagem com uma mentira – a Globo só a exibiu do pescoço pra cima por algum período, enquanto ela estava grávida: eu deveria ter percebido aí que ela tinha duas caras.

Rê entrou nos seus 30 anos com o sorriso fantástico – naquele tempo não existiam câmeras em HD – e estava bem de vida.

Seu pai, um oficial do Exército, morreu num acidente e deixou pra ela uma pensão de 6840 reais, sem imposto de renda.

Foram 6840 limpinhos.

Leis e portarias embaralharam as coisas de um jeito tal que ela sempre conseguiu o direito ao benefício, casada ou solteira, trabalhando ou não – agora o presidente Bolsonaro sacramentou esta grana até a tumba, com reajustes iguais aos dos militares da ativa. Agorinha, logo depois da aprovação da reforma da previdência.

Bem, minha namoradinha se tornou a namoradinha da maioria dos brasileiros, enquanto casava mais quatro vezes e fazia três filhos.

Continuamos nos babando por ela, porque todos os ângulos da Globo a favoreciam: em geral, mãe de três que passou por cinco maridos e acima dos 40 se desmancha um pouco.

Aí ela começou a gostar de política, apoiando o FHC – só que naquela época ele ainda não tinha declarado apoio ao Huck.

Andei viajando uns tempos e consegui esquecer da Rê. Soube que ela fez até papel de prostituta, mas não vi nada demais.

Atravessou uma selva de pedra, foi rainha dos sucateiros – vejam, esta mulher fazia papéis de gente humilde. Era o povo brasileiro!

Rê andou uns anos no ostracismo – sempre recebendo a pensão de 6840. Vamos arredondar? 7 mil. Parece pouco? Durante 38 anos!

13 meses por ano!.

Uma atualização basiquinha deixa isto em 3 milhões e 458 mil reais, limpinhos, como eu já disse. Mais 321 mil que tomou da lei Rouanet (aquela lei que parecia destinada aos esquerdistas) e esqueceu de pegar recibos. Tá na Justiça…

Enfim, ficou com 3 milhões e 779 mil do Tesouro Nacional – fora os salários da Globo, onde foi por décadas muito bem paga. E fora os comerciais.

Não aguentei seu último marido, um fazendeiro!

Com ele, Rê foi para o campo e passou a dar discursos de ódio contra índios e contra o MST, tipo gente que não tem terra que não venha atrapalhar a criação das nossas vacas.

Aí Bolsonaro precisa urgente de um secretário da Cultura para preencher o cargo daquele nazista tupiniquim defenestrado.

A vaga é colocada estrategicamente no meio do laranjal do ministro do Turismo, o honesto mais desonesto do Planalto, tirando Flávio Bolsonaro.

Eu acordo um dia e lá está ela, a Rê, anunciando um namoro com o capitão! Quer a vaga de secretária da Cultura, mas faz c. doce.

Vou no Google e descubro que ela ganha aqueles 7 mil limpinhos, não pagou o dinheiro da Lei Rouanet – e vai ganhar 33 mil de salário como secretária do Bozo. Aquele sorriso continua rendendo pra ela…

Pesquisei um pouco mais. Foi quando soube dos cinco casamentos, nunca tinha me dado conta que foram tantos assim. E da farsa para ser sempre a mocinha de cara limpa – o advento do HD não a favoreceu, mas, sejamos justos, agora ela está com 72.

Rê, começa então uma dança cheia de micagens. Vai a Brasília e escolhe uma pastora de uma igreja pirada – pro governo Bozo, bastaria ser pastora.

Entrega o cargo para a santa senhora e faz um tour nas capas dos jornais, como nos velhos tempos.

Está noiva do capitão. Prometeu casar na segunda-feira.

A mim ela não impressiona mais!

Saiu do meu coração. Entra Paloma. Com quase 40 anos, Pa criou três filhos como costureira em Bom Sucesso, não se aproveitou da grana do velho Alberto, namorou um negro do bairro e fez uma filha com ele – esta sim é uma mulher do povo.

Batalhadora, guerreira, humilde, que sabe amar de verdade. De raiz. E com certeza votou no Haddad.

Já a Rê tá com dinheiro do Exército – o nosso dinheiro – morando na casa grande da fazenda, com alguns jagunços na porteira. Como eleitora, regrediu de FHC para Bozo.

Do seu casamento com Bolsonaro imagino o monstro que vão parir! Farsante! Hipócrita! Dinheirista!

Teu único papel verdadeiro foi sacar no caixa do Tesouro Nacional!

Me meteu chifres a vida toda e eu não percebi!

Mas acordei: Rê Duarte, vaya con Dios!

 

Renan Antunes
Jornalista, com passagem pelos principais veículos de São Paulo, Rio e RS