
Em sua coluna no UOL, Reinaldo Azevedo analisou a postura de Tabata Amaral no debate da Record TV e fez um prognóstico sobre as pretensões políticas futuras da candidata: ser o nome da “direita civilizada”. Confira trechos:
Reproduzo a pergunta que ela dirigiu a Boulos e o comentário que fez depois da sua resposta:
“Candidato, de cada 10 crianças que estão na creche hoje, oito estão em entidades, muitas delas religiosas, que fazem parcerias com a Prefeitura. Na última eleição, você disse que era contra esse modelo; que, se fosse prefeito, acabaria com as parcerias. Agora, você disse que mudou de opinião nessa eleição. No entanto, seu partido, o PSOL, continua sendo o contrário ao modelo de parcerias. Então, eu queria entender: em quem nós devemos acreditar: no Boulos ou no PSOL?” (…)
Ocorre que Tábata fez uma pergunta como cama de gato para outra. Nem escondeu o propósito. Ela queria mesmo era colar no candidato do PSOL a pecha de falso moderado. E não hesitou em apelar às pechas que a extrema-direita tenta colar do seu adversário de esquerda:
“Mas a pergunta que eu lhe fiz, Boulos, é porque tem uma coisa que as pessoas se perguntam muito: você, nessa eleição, abriu mão de muitos posicionamentos históricos que você e seu partido defenderam veementemente. Você dizia que era a favor da descriminalização das drogas; agora, é contra. Dizia que era a favor da legalização do aborto; agora, diz que defende a lei do jeito que tá. Nessa semana, exatamente, mudou sua posição em relação à Venezuela e diz agora, finalmente, que é uma ditadura, mas o seu partido mantém essas mesmas posições. Isso gera um questionamento para as pessoas: como é que você vai governar com o seu partido contra, quando já existe uma dificuldade com partidos à direita?” (…)
Tábata Amaral durante debate da Record. Imagem: reprodução.Notem que Tábata resolveu ecoar, ainda que de modo aparentemente mais civilizado, a baixaria de Pablo Marçal. Ao tocar na questão do aborto, tange outra corda que repercute no eleitorado conservador. Ademais, pergunte-se: se ele mudou de ideia, qual o problema? (…)
Quando apela a tais temas, nesse tom, é evidente que não está tentando ganhar o eleitorado de esquerda. O máximo que poderia conseguir, se conseguisse alguma coisa, seria tomar alguns eleitores moderados de seu adversário progressista, o que não a levaria para o segundo turno, mas poderia concorrer, ao menos em tese, para tirá-lo do segundo turno. Marçal deve ter ficado satisfeito. (…)
Ela é o melhor projeto que a turma do “nem-nem” acalenta. Ao investir contra Boulos, não almeja, obviamente, mostrar-se confiável às esquerdas. Seu apelo é dirigido, no presente, aos moderados e, na história do futuro, à “direita civilizada”. (…)