O mal vem de quando o Príncipe herdeiro contratou mercenários estrangeiros para defender a coroa para si.
O nobre disse que seu propósito era patriótico e compôs (reza a lenda) hino bonito pedindo ao povo que vertesse sangue por ele: “ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil”.
Sendo o regime escravocrata, as fileiras nasceram no dilema: defender o patrimônio territorial da Coroa ou preservar a ordem social tenebrosa que a sustentava. Toparam a dupla missão e, com o tempo, assumiram outras.
O guerreiro da pátria passou a ser guarda civil, vigilante patrimonial, engenheiro faz-tudo (inclusive, templos religiosos), desbravador dos sertões, civilizador etnocida, falacioso protetor de nativos, renovador da medicina e da veterinária, cartógrafo pioneiro, teorizador do progresso, introdutor de técnicas de recenseamento, pensador geopolítico, teórico do autoritarismo numa pátria sem povo, algoz de trabalhadores rurais insurgidos contra a fome, carrasco praticante de degolas, braço armado de potentados rurais, justiceiro em terras paraguaias, defensor de ocasião do abolicionismo, fundador e patrono da República, tutor do Estado e da sociedade, promotor da modernidade, implantador de linhas telegráficas, candidato a representante de setores médios urbanos insatisfeitos, planejador e gerente de negócios públicos, alimentador do clientelismo despudorado, introdutor da promoção pelo mérito avaliado pelo viés corporativo, admirador do nazifascismo, herói do embate contra Hitler e Mussolini, guarda-costeiro equipado com porta-aviões, navegador de longo curso em barcos caríssimos, segurança da Federação contra oligarcas provinciais, amigo dos donos de terra, gado e gente, desbravador dos ares em aviões importados, correio aéreo, estudioso de ventos e correntes marítimas, fabricante frustrado de armas e equipamentos, cliente submisso do complexo industrial-militar de potências estrangeiras, construtor fracassado de bomba atômica, defensor e sabotador da autonomia energética, paladino do desenvolvimento científico e tecnológico e perseguidor de professores, cientistas e estudantes, conspirador permanente contra a democracia, defensor pontual da Constituição, demolidor intimorato da Carta, assassino de patriotas, estuprador de mulheres, araponga infiltrado nos movimentos sociais, vigilante de fronteira terrestre, protetor do meio ambiente, defensor da Amazônia, estimulador da destruição ambiental e entregador da Amazônia, bondoso assistente social da pobreza gritante, agente de saúde, negacionista empedernido, intérprete do processo histórico, impiedoso censurador de músicos e escritores, definidor arrogante e defensor intransigente dos objetivos permanentes da nacionalidade por ele mesmo definidos, inimigo de cientistas sociais que não glorificam o legado colonial, planejador do desenvolvimento nacional, professor de educação moral e cívica, defensor da tradição, da moral e dos bons costumes, impiedoso contestador de políticas de inclusão social, defensor da paz social em sociedade injusta, corajoso invasor de favelas urbanas em nome da Lei e da Ordem, missioneiro da paz designado pela ONU, ideólogo e controlador dos aparelhos da segurança pública avessa à cidadania de pretos e pobres, denunciante (sem provas) de ONGs financiadas por estrangeiros gananciosos, defensor altivo da soberania de fachada, correia de transmissão de políticas defendidas por agências multilaterais, entregador de empresas estratégicas ao estrangeiro rico, fabricante de pós-verdades…
Cabe esperar qualquer coisa de portador de distúrbio de personalidade não diagnosticado a tempo e alimentado pela covardia política.
No caso brasileiro, o píncaro da glória do portador de distúrbio ocorreu quando um líder popular foi preso injustamente e um demolidor assumiu o mandato presidencial.
Não há razões para duvidar que, diante da rejeição popular ao mandatário educado nas Agulhas Negras, o enfileirado assuma outra missão: tumultuar a contagem eletrônica de votos. Da confusão armada, o guerreiro portador de distúrbio poderá emergir impoluto para salvar a pátria mais uma vez.