Relação da família Bolsonaro com milícias é pública, diz viúva de Marielle

Atualizado em 15 de agosto de 2020 às 16:51
Monica Benicio

Publicado originalmente no Vermelho:

Em entrevista à repórter Mariana Ferrari, da IstoÉ, a arquiteta Monica Benicio, viúva de Marielle Franco, disse que as ligações com a milícia da família do presidente da República, Jair Bolsonaro, são públicas.

Monica afirmou ainda que, como brasileira, se sente envergonhada das políticas públicas do governo federal e dos indícios da aproximação de Bolsonaro com milicianos. Ela afirmou que tem convicção de que os assassinatos da vereadora do PSOL e de seu motorista, Anderson Gomes, serão elucidados, e que esse é um compromisso do Estado brasileiro inclusive a nível internacional.

Confira abaixo trechos da entrevista:

Como é viver em uma nação liderada por Bolsonaro?

É uma tragédia. Não precisa nem ser LGBT. Viver em um País em que o presidente da República é Jair Bolsonaro, por si só, já é uma preocupação, principalmente em relação à democracia. Bolsonaro despreza a democracia. Não tem nenhum compromisso com a população em geral. É um sujeito que nos seus trinta anos como parlamentar ficou conhecido pelo seu discurso de ódio. E só.

É possível falar que há uma cultura brasileira em contar histórias de minorias só depois da morte?

Somos um país que criminaliza as pautas de Direitos Humanos. Então, consequentemente, há esse tipo de ação. Precisamos entender que isso é gerado por um projeto de poder e que pautamos lutas para LGBTs, mulheres, negros, indígenas, quilombolas, por algo em comum: dar visibilidade a essas vidas.

A milícia vem ganhando cada vez mais força, o que significa esse poder paralelo?

Precisamos olhar com muita seriedade para a milícia. A milícia, hoje, tem projeto político: cadeira no Senado, em Câmaras estaduais e federais. A milícia é Estado. É fundamental que se invista no seu desmonte. Ainda mais por estarmos em um governo que quer flexibilizar o porte de armas.

E por que falam tão pouco em combate às milícias?

Justamente, porque é um projeto de poder. Temos no governo uma política dominada por homens brancos, fundamentalistas, heteronormativos. Um grupo que sempre permaneceu no poder, que é o topo da pirâmide social. Então, como hoje a milícia tem projeto de poder político, e tem força dentro do Estado, ela acaba sendo fortalecida. É como estar na escola ajudando os seus amiguinhos e quem não faz parte do seu grupo não se beneficia. E são pessoas perigosas, porque têm qualificação técnica paramilitar.

E sobre a ligação da família do presidente Bolsonaro com o poder miliciano…

Como brasileira, a palavra que eu encontro é vergonha. Mas eu preciso ir ainda mais além. As relações da família do presidente com a milícia são ligações que estão colocadas publicamente, como empregar milicianos e parentes no gabinete do filho do presidente e exaltar milicianos. Já foi até defendido que a milícia fosse legalizada. São informações públicas, não é uma questão de especular relações. Isso está colocado publicamente.

Mesmo nesse cenário, há ainda a esperança de que os assassinatos da Marielle e do Anderson sejam elucidados?

Se não fosse por essa esperança, por acreditar, e ter plena convicção dessa resposta, nós não estaríamos nem fazendo essa entrevista. Esse é um compromisso que o Estado brasileiro tem com a nação, não só nacional, como internacional.