Relação do Master com fintech ligada ao PCC gerou denúncia do BC ao MP; entenda

Atualizado em 31 de dezembro de 2025 às 9:11
Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, sentado ao lado de computador com a logo do banco, olhando para a câmera, sério
Daniel Vorcaro, dono do Banco Master – Reprodução

O Banco Central enviou ao Tribunal de Contas da União (TCU) um relatório com novos indícios de irregularidades atribuídas ao Banco Master, do banqueiro Daniel Vorcaro. O documento aponta operações suspeitas realizadas com fundos administrados pela Reag Trust Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A. e levou o regulador a comunicar o Ministério Público Federal por suspeitas de crimes financeiros. Com informações da Folha de S.Paulo.

A Reag Trust foi alvo da Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto, que apura ligações entre o setor de combustíveis, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e empresas financeiras.

Segundo o relatório, entre julho de 2023 e julho de 2024, Master e Reag estruturaram operações em desacordo com normas do Sistema Financeiro Nacional, com falhas consideradas graves. As transações integram um conjunto de operações estruturadas que somam R$ 11,5 bilhões, incluindo negócios envolvendo dois fundos ligados à Reag.

Trata-se da segunda denúncia formal do BC ao MPF contra o Master. A primeira envolveu a revenda de R$ 12,2 bilhões em créditos inexistentes ao Banco de Brasília.

O Banco Central apontou problemas como inadequado gerenciamento de capital e risco, além de operações sem garantias suficientes, liquidez ou diversificação. Segundo o regulador, essas práticas agravaram a crise da instituição e justificaram a abertura de processos administrativos sancionadores, que ainda estão em fase de instrução.

“Em 17 de novembro de 2025, houve nova comunicação ao MPF por indícios de crimes de desvio de recursos e gestão fraudulenta. Tratava-se de operações estruturadas no montante de R$ 11,5 bilhões, que revelaram inadequado gerenciamento de capital e risco, com negócios sem garantia, liquidez, e diversfiicação, agravando a crise e justificando processos administrativos sancionadores, que se encontram em fase de instrução”, diz o documento enviado pelo BC ao TCU.

Sede da Reag Investimentos. Foto: reprodução

Uma das suspeitas levantadas por técnicos do Banco Central é que fundos administrados pela Reag teriam sido usados para pulverizar recursos em nome de terceiros, por meio de “laranjas”.

Entre os veículos citados estariam o Bravo 95 Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado e o D Mais Fundo de Investimento em Direitos Creditórios. Em outra frente, parte desses recursos teria sido realocada na tentativa de viabilizar a venda do Master ao BRB.

O processo que tramita no TCU apura possíveis falhas e omissões do Banco Central no caso Master. Como mostrou a Folha, a apuração pode se tornar um trunfo para Vorcaro em eventual estratégia de defesa, inclusive para tentar evitar uma condenação criminal ou uma delação premiada. O caso corre sob sigilo, por decisão do ministro relator Jhonatan de Jesus.

Nesta terça-feira (30), Vorcaro, o ex-presidente do BRB Paulo Henrique Costa e o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino, prestaram depoimento à Polícia Federal. Vorcaro e Costa foram submetidos a uma acareação diante de versões conflitantes. As oitivas ocorreram no Supremo Tribunal Federal e foram acompanhadas por um representante do MPF e por um juiz auxiliar do gabinete do ministro Dias Toffoli, relator das investigações.

A apuração sobre a tentativa de venda do Master ao BRB indica que, antes mesmo da formalização do negócio, o banco teria forjado e vendido cerca de R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito consignado, sendo R$ 6,7 bilhões em contratos falsos e R$ 5,5 bilhões em prêmios, valor que supostamente representaria a carteira acrescida de um bônus.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.