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Por Moisés Mendes
Os militares não tiveram pressa na apresentação do relatório sobre as urnas e a apuração, que somente será entregue nesta quarta-feira ao TSE.
A capacidade de mobilização dos arruaceiros das estradas e dos tios do zap acampados diante dos quartéis pode ter calibrado o tempo para divulgação do documento.
Se as ações golpistas tivessem se disseminado, certamente o relatório viria com toda força. Como o movimento se esvai e vira apenas memes, os militares terão de cumprir carnê.
Vem aí um relatório de acordo com o clima, mas não com as melhores expectativas golpistas. O Exército não pode dizer que não viu nada de defeito na eleição, depois de levantar sérias dúvidas sobre o sistema.
Mas também não pode chutar a barraca, porque não está com essa bola toda. O que se anuncia é que as Forças Armadas largarão a bomba no colo do Ministério Público, para que investigue os defeitos encontrados. Hoje saberemos quais são esses defeitos.
Bolsonaro só fica observando. O relatório pode ser a segunda etapa da tentativa de golpe depois da eleição, após as ações nas estradas e na frente dos quartéis.
Os tios e tias do zap, os caminhoneiros e os financiadores das turbas lerão o relatório como bem entenderem. Imaginem a situação que pode se criar com a leitura coletiva da interpretação do documento.
Teremos reações diversas, como as provocadas pelas duas falas frouxas de Bolsonaro depois da eleição, com a recomendação para que os caminhões saíssem das estradas, mas meio que autorizando os atos dos tios e das tias no entorno dos quartéis.
O ruim para a imagem do Exército é que o relatório será entregue 10 dias depois da eleição.
O TSE faz a apuração de uma eleição nacional em poucas horas e anuncia o resultado no mesmo dia. Sempre foi assim.
Mas o Exército, que pretende interferir no sistema eleitoral mais ágil e seguro do mundo, leva 10 dias para dizer se está tudo bem.
Dez dias para escrever um relatório. Se fosse a resposta dos militares numa situação de guerra, diante de uma ameaça real, a guerra já teria sido perdida.
Se a eleição fosse, como dizem nos acampamentos diante dos quartéis, um plano para a invasão comunista, o Brasil já teria sido ocupado enquanto eles fazem o relatório.