Renan na relatoria da CPI é o pior pesadelo para Bolsonaro. Por Fernando Brito

Atualizado em 16 de abril de 2021 às 20:51
Bolsonaro – reprodução

Originalmente publicado em TIJOLAÇO

Por Fernando Brito

Nenhum dos 81 senadores seria pior para Jair Bolsonaro sentado na cadeira de relator da CPI da Covid que Renan Calheiros.

Mesmo antes de começar a funcionar a Comissão, a escolha de Renan – ainda não formalizada – já é um sinal de que o Senado pretende encurralar o atual presidente: parte porque é mesmo oposição a ele, parte porque quer “amolecer” as resistências do governo em atendê-los em obras, cargos e otras cositas más e, finalmente, alguns que já temem colher resultados eleitorais negativos de acumpliciarem-se às omissões do Ministério da Saúde e às incitações à morte proferidas pelo chefe de Eduardo Pazuello.

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Ainda há resistências do governismo, por enquanto aparentemente fracas, tentando colocar na relatoria o senador Marcos Rogério, do Democratas de Rondônia, na relatoria. Há muita hesitação diante da possibilidade de, com uma relator que já começasse os trabalhos com uma “operação-abafa, bloqueando pedido de oitivas, como a dos ex-ministros Luiz Mandetta, Nelson Teich e o próprio Eduardo Pazuello.

Mas acho que Renan não usará uma tática inversa, a de ajudar a incendiar a Comissão e deixará os fatos surgirem das próprias audiências, inclusive ouvindo o outro lado de escassez de vacinas: as próprias farmacêuticas que as produzem, para que revelem quando e quanto de vacinas o Brasil procurou (ou não) comprar, para fazer contraponto às versões oficiais do Ministério da Saúde.

Vai dar corda para que o próprio governo se enforque, sobretudo ao tratar das orientações insistentes de Jair Bolsonaro para o uso de hidroxicloroquina, Ivermectina e outras drogas do seu chamado “kit covid” e colocar, na hora exata, o ponto mais dramático desta sucessão de omissões: a falta de oxigênio e as mortes por sufocamento em Manaus.

Enfim, um trajeto bem planejado, salpicado aqui e ali por vinganças pela interferência de Jair (e Flávio) Bolsonaro na humilhação que sofreu na eleição da presidência do Senado.

Calheiros teve dois anos para afiar a peixeira e ele sabe usá-la com discrição e eficiência. Não há quem, em seu juízo perfeito, possa subestimá-lo: a capacidade que demonstrou de se desvencilhar de todas as encrencas em que se meteu ou foi metido mostra que sabe comer frio o prato da vingança.