Reportagem do Jornal Nacional sobre advogado de Flávio Bolsonaro foi publicada pelo DCM há um ano. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 18 de maio de 2020 às 22:01
Flávio Bolsonaro e o shopping Via Brasil, onde uma franquia da Kopenhagen está registrada em nome de um ex-funcionário seu

A reportagem que o Jornal Nacional, da Rede Globo, exibiu nesta noite foi publicada pelo DCM há quase um ano — no dia 19 de maio do ano passado, como se pode constatar neste aqui. O JN publicou a reportagem como se fosse exclusividade. Mentira.

O nome de Victor Granado Alves voltou à tona agora, quando o empresário Paulo Marinho revelou que ele acompanhava Flávio Bolsonaro em dezembro de 2018, quando este teria dito que recebeu informação privilegiada da Polícia Federal no Rio de Janeiro sobre a Operação Furna da Onça.

Reportagem foi publicada pelo DCM no dia 19 de maio do ano passado

Segue abaixo o artigo publicado pelo DCM:

A quebra dos sigilos bancário e fiscal de assessores e ex-assessores de Flávio Bolsonaro pode revelar muito mais do que a prática da chamada rachadinha, apelido que os políticos cariocas dão a uma modalidade do crime de peculato — no caso, a transferência de parte dos salários pagos com dinheiro público para a conta do filho de Jair Bolsonaro.

É que pelo menos dois deles atuam no mesmo ramo de atividade empresarial de Flávio. Victor Granado Alves e Mariana Teixeira Frassetto Granado, que eram lotados no gabinete dele na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, são donos da Damas de Chocolate, a pessoa jurídica por trás de franquia da Kopenhagen no shopping Via Brasil em Irajá, no Rio de Janeiro.

Flávio Bolsonaro é dono de uma franquia da Kopenhagem em um shopping na Barra da Tijuca.

Pode ser apenas coincidência que ele e dois ex-subordinados atuem no mesmo ramo de negócio, com contratos com a mesma franqueadora, mas é um fato que merece atenção dos investigadores.

Não é exagero suspeitar que Victor e Mariana sejam laranjas de um esquema maior, levando-se em consideração que o Ministério Público do Rio de Janeiro apura indícios de que assessores nomeados por Flávio Bolsonaro tenham sido usados para a prática de lavagem de dinheiro.

Se não houvesse essa suspeita, os sigilos não teriam sido quebrados, inclusive os dos donos da Kopenhagen no shopping Via Brasil.

Se Mariana e Victor Granado eram proprietários de uma franquia, por que precisariam ocupar cargo político?

Mariana chegou a ser nomeada para a assessoria de Flávio Bolsonaro no Senado, mas a portaria de sua nomeação como secretária parlamentar foi tornada sem efeito no dia 28 de fevereiro, depois que o Supremo Tribunal Federal autorizou a investigação no Rio de Janeiro.

No dia 15 de março, ela voltou a ser nomeada no gabinete de Flávio Bolsonaro, desta vez para o cargo de assessora parlamentar.

Victor, sócio de Mariana na Kopenhagen, não foi nomeado para o Senado, mas mantém uma ligação muito próxima com o ex-chefe e também com o pai deste, Jair.

Mesmo quando era funcionário público, ele atuava na defesa de Jair Bolsonaro em processos que não têm nenhuma relação com a atividade parlamentar.

Victor foi advogado de Bolsonaro na ação movida para anular a multa aplicada a Bolsonaro por causa de pesca ilegal em Angra dos Reis.

Ele também defendeu a mulher de Flávio Bolsonaro, a dentista Fernanda, num processo que buscava anular a multa aplicada pela Polícia Militar porque ela se recusou a fazer o teste do bafômetro em uma blitz no Rio de Janeiro.

Bolsonaro e os filhos costumam alardear que são defensores dos valores da família brasileira. Nos gabinetes do clã, irmão e irmãs, pais e filhos, nora e sogra dividem a mesma portaria de nomeação — para não dizer espaço, já que há indícios de que muitos são fantasmas.

Os negócios fora do serviço público também são conectados — vide o cheque de Queiroz depositado na conta de Michelle Bolsonaro.

A investigação do Ministério Público pode revelar que a família a que os Bolsonaros fazem referência seja, na verdade, “famiglia”.