Representante do fascismo raiz no Brasil, Frente Integralista Brasileira adere à candidatura de Bolsonaro

Atualizado em 25 de outubro de 2018 às 9:14

POR VINÍCIUS SEGALLA

A Frente Integralista Brasileira (FIB), grupo político que carrega as bandeiras da extinta Ação Integralista Brasileira e de seu fundador, Plínio Salgado, formalizou nesta semana o seu “apoio crítico” à candidatura presidencial de Jair Bolsonaro (PSL).

No último domingo (21), em evento da campanha de Bolsonaro na avenida Paulista, em São Paulo, o presidente nacional da FIB, Victor Emanuel Vilela Barbuy, em dado momento, pegou o microfone. Julgou prudente começar como segue:

“Eu sou Victor Emanuel Vilela Barbuy, presidente nacional da Frente Integralista Brasileira, e devo dizer, antes de tudo, que o Integralismo, movimento cívico-político essencialmente cristão e brasileiro, que não se confunde com o fascismo italiano e, muito menos, com o nacional-socialismo alemão, tem tomado o partido do Brasil desde a década de 1930, lutando por Deus, pela Pátria, pela Família e por todos os valores tradicionais sintetizados nessa tríade, augusta como nenhuma outra.”

Tendo esclarecido este ponto, de que a FIB não representa o fascismo no Brasil, o presidente da entidade seguiu dizendo que a Frente Integralista Brasileira apoia, orienta o voto e compõe a candidatura de Jair Bolsonaro, mas que ninguém se engane! Trata-se de um “apoio crítico”, como explicou:

“No próximo dia 28, é nosso dever votar no candidato que menos distante se encontra dos valores cristãos e brasileiros consubstanciados no lema ‘Deus, Pátria e Família’. Por mais que discordemos de Bolsonaro em diversas questões, sejamos a onda verde e amarela que destruirá a onda vermelha lulopetista! A nossa bandeira é verde e amarela e nela jamais brilhará nenhuma estrela vermelha!”

Isso conforme reproduz o discurso de seu presidente a página da FIB no Facebook, como se pode ver em reprodução abaixo e, pelo menos até a publicação desta reportagem, também na página da entidade na rede social.

A Frente Integralista, Jair Bolsonaro e o seu vice 

O anúncio público de adesão do presidente da FIB à candidatura Bolsonaro, no ato de campanha do último domingo, é fruto de uma relação de longa data. Contando de frente para trás, antes do discurso na Paulista, na semana após o primeiro turno da eleição, a Frente Integralista publicou os motivos que levariam o movimento a fechar com Bolsonaro, muito embora com ressalvas:

“Bolsonaro tem um bom discurso antiprogressista, com especial destaque à ideologia de gênero e ao aborto. (…). Entretanto, de um tempo pra cá, tomou algumas atitudes péssimas, talvez por influência dos ditos neoconservadores, tais como o comparecimento a comícios portando a bandeira dos EUA e de Israel, a continência à bandeira americana, dentre outras, bem como as suas falas atabalhoadas sobre controle de natalidade.”

Devidamente ressalvado, o posicionamento de então foi posto em seguida: “Diante dessa conjuntura, não nos resta outra alternativa senão o voto contra Haddad e contra o PT.”

Ainda antes disso, em janeiro deste ano, o chamado núcleo da Frente Integralista Brasileira de São José dos Campos-SP esteve com Jair Bolsonaro em evento de campanha ocorrido na cidade. O ex-capitão foi questionado se encamparia um projeto de desenvolvimento da bomba atômica no Brasil. Não se comprometeu a tanto, mas prometeu mais recursos para as pesquisas do Exército, como se vê em vídeo publicado pela FIB.

Para além da relação pessoal com o cabeça de chapa, os representantes do pensamento fascista no Brasil mantêm uma relação longeva com o partido do candidato a vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, o PRTB. Relação esta reiterada e fortalecida nos últimos tempos.

Bolsonaro com Levy Fidelix e o general Mourão

História

O integralismo foi um movimento político fascista nacionalista brasileiro criado em 7 de outubro de 1932 por Plínio Salgado, um medíocre escritor modernista, jornalista e político.

Salgado adotou características do fascismo italiano, tomando certa distância do nazismo porque ele dizia não apoiar o racismo. Apesar do slogan “união de todas as raças e todos os povos”, no entanto, o destacado integrante Gustavo Barroso era  antissemita.

A Ação Integralista Brasileira, AIB, conquistou uma parcela da classe média e dos oficiais das Forças Armadas. Getúlio Vargas os apoiou no início. Dissolveu o grupo em 1937. Plínio Salgado se exilou em Portugal.

Sua saudação era “Anauê”, com o braço esticado e a mão espalmada no melhor estilo do “Sig Heil” de Hitler.

De volta para o futuro

Como se sabe, o candidato de Bolsonaro ao governo do Estado de São Paulo era Rodrigo Tavares, do PRTB, única sigla na coligação do ex-capitão além do PSL, o seu partido.

Antes de ser derrotado no primeiro turno com menos de 5% dos votos, Rodrigo Tavares recebeu, no dia 14 de setembro, em seu escritório de campanha, o presidente da Frente Integralista Brasileira, Victor Emanuel Vilela Barbuy. Assim descreveu o encontro o movimento de ultradireita:

“No último dia 14 de setembro, o Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira (FIB), Dr. Victor Emanuel Vilela Barbuy, teve uma reunião com Dr. Rodrigo Tavares, candidato ao Governo de São Paulo pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), no escritório de campanha deste, na Zona Sul da Capital Paulista.

Durante o encontro, o Dr. Victor Barbuy entregou ao Dr. Rodrigo Tavares uma carta de apoio oficial da FIB a este e ao Sr. Levy Fidelix, candidato ao cargo de Deputado Federal pela mesma agremiação política, e um exemplar da obra “O pensamento revolucionário de Plínio Salgado.”

Voltando a janeiro deste ano, o presidente do PRTB, Levy Fidelix, encontrou-se com o presidente integralista em Campos do Jordão (SP). Conversaram e tomaram vinho por cinco horas, segundo contam os integralistas. Ao fim da reunião, Victor Barbuy presenteou Levy com um livro e uma dedicatória, como se vê abaixo.