Respostas para um cadáver. Por Moisés Mendes

Atualizado em 16 de fevereiro de 2020 às 12:15
Capitão Adriano, denunciado da Operação Intocáveis, cuja mãe trabalho no gabinete de Flávio Bolsonaro

Publicado originalmente no blog do autor

O que deu certo e o que deu errado na operação que acabou matando o miliciano Adriano da Nóbrega na Bahia? Se não conseguir dar respostas, o governo de Rui Costa ficará com o cadáver no colo, enquanto Bolsonaro se diverte e o acusa de execução.

Algumas hipóteses para o que aconteceu, desde a origem da caçada, e para o desfecho desastroso ou, dependendo do ponto de vista, para o que estava devidamente programado:

1. A polícia civil carioca, sem o controle dos Bolsonaros, decide caçar Adriano da Nóbrega para comprometer a família. O início da caçada chega logo ao conhecimento do governo. Sergio Moro decide que Adriano não deve entrar na lista dos bandidos mais procurados do país, exatamente por estar sendo caçado. Moro não pode ficar com os créditos do incentivo a uma perseguição que iria comprometer os Bolsonaros.

2. Se a polícia carioca decide ir à Bahia para procurar o miliciano, a polícia baiana precisava dar suporte aos colegas. É óbvio que interessa a um governo do PT anunciar que encontrou o bandido amigo dos Bolsonaros. Quem faz investigações é, formalmente, a polícia civil. Mas o Bope, já preparado, é chamado para entrar em cena na hora da operação de cerco ao sítio.

3. É aí, na participação do Bope baiano, que pode ter ocorrido o desencontro entre o desejo de tentar prender e a decisão de atirar para matar. São 70 homens contra um sujeito sozinho num sítio. Um aprendiz de policial sabe como agir para cercar, negociar e levar o acossado ao cansaço e à rendição. O principal fator nesses casos é o tempo.

4. Tudo que o Bope não quis usar foi o tempo. Sabe-se que, do início da operação até o desfecho, a ação foi muito rápida. Que comando apressou a operação que levou à morte do miliciano? Havia um comando paralelo do Bope na linha de frente? Quem mandou atirar? Por que atiraram tão de perto e em áreas letais do corpo?

Se as respostas não forem oferecidas logo, os Bolsonaros vão repetir que são os acusadores com o dedo apontando para o PT, e não os aliados de um criminoso que os protegia e tinha a proteção da família.

A máxima bolsonariana de que a culpa é sempre de Lula chega ao nonsense total, com Flavio e o pai jogando Adriano e seus arquivos em cima de Rui Costa e do PT.

Como responder a tantas dúvidas? Encontrando quem sabe tudo. Alguém sempre sabe tudo, desde o começo. Alguém ou alguns. Que o governo da Bahia, mais do que o jornalismo, saiba procurá-los.