Publicado originalmente no perfil do autor no Facebook
POR LUIS FELIPE MIGUEL, cientista político
O jogo de Bolsonaro é transparente: (1) continuar tumultuando as medidas de combate à pandemia; (2) eximir-se de qualquer responsabilidade pelas dezenas ou centenas de milhares de mortes, porque, afinal, não baixou o tal decreto de liberação do comércio; (3) dizer que os governadores e prefeitos são os culpados pelo desemprego e quebradeira de empresas. Daí, em 2022, ele será candidato à reeleição com discurso de oposição.
Trata-se de um caminho em que não importam vidas, não importa o país, não importa nada que não seja seu ganho político imediato.
Ele se exime das responsabilidades do cargo que ocupa, atrapalha o trabalho de quem se dispõe a fazê-lo e se propõe lucrar tanto com as mortes quanto com a crise econômica. Menos mortandade e menos miséria não interessam a ele. Algo tão ignóbil, tão amoral, que realmente é próprio de Bolsonaro.
Não resta dúvida para ninguém que a permanência de Bolsonaro é um fator maiúsculo de agravamento da crise sanitária. Estamos multiplicando o caos no sistema de saúde, os doentes e os mortos por um fator – de 2, 3, 5, 10? – ao deixar o cargo singular mais importante da República nas mãos de um quinta-coluna do vírus.
Parece que os adversários de Bolsonaro também se guiam pelo cálculo político. Retirá-lo do cargo agora reforçaria seu discurso de que não tem responsabilidade pelas consequências da pandemia no Brasil. Fazendo-o de “vítima do sistema”, consolidaria sua liderança junto ao gado que o segue.
Pois quem se guia pelo cálculo político raso num momento desse prova que não tem estatura para ser liderança política.
Estamos ainda no começo da curva ascendente. Ainda há tempo para evitar o pior, com medidas sensatas de confinamento e com um plano abrangente de garantia de renda e de emprego.
Retirar da presidência o traidor do Brasil é só o primeiro passo.
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