Revoluções coloridas viraram revoluções digitais, dizem especialistas sobre geração Z no Nepal

Atualizado em 10 de setembro de 2025 às 9:38
Manifestante grita slogans em protestos contra a morte de 19 pessoas em Katmandu, Nepal, em 9 de setembro

O Nepal enfrenta a maior crise política dos últimos anos. O governo provocou a reação popular ao tentar banir grandes redes sociais, mas o descontentamento já vinha se acumulando devido à corrupção, desemprego e insatisfação com um sistema político considerado desgastado.

Os protestos rapidamente se tornaram violentos: prédios públicos foram incendiados, a residência do primeiro-ministro foi atacada, dezenas de pessoas morreram, e o próprio premiê acabou renunciando. Manifestantes também ocuparam o Singha Durbar, sede dos ministérios, e atacaram arquivos judiciais, intensificando o caos.

Especialistas russos ouvidos pela RT destacaram fatores estruturais e sociais.

Boris Volkonsky, do Instituto de Estudos Asiáticos e Africanos, afirma que a abolição da monarquia abriu caminho para a corrupção sistêmica, e o bloqueio das redes sociais foi apenas o gatilho imediato. Elza Shirgazina, do IMEMO RAS, observa que, apesar das mudanças de governo, os problemas econômicos e sociais persistem, incluindo tensões de castas e discriminação, e que os protestos se intensificaram devido à frustração acumulada.

Ilya Spektor, da Universidade Estatal de Moscou, ressalta que o levante não se explica apenas pelo bloqueio do YouTube, mas por uma crise profunda em um país jovem, com taxa oficial de desemprego juvenil de 20% e PIB per capita significativamente abaixo do da Índia.

Nikolai Starikov e Alexey Makarkin destacam a dimensão geopolítica e geracional da revolta. Starikov lembra que Nepal está situado entre Índia e China, e que recentes ajustes diplomáticos na região coincidiram com o aumento das tensões internas. Makarkin aponta que a Geração Z, ou “Zoomers”, cresceu na era digital e vê a política tradicional como ineficiente e corrupta.

O aumento da participação de partidos emergentes, como o Rastriya Swatantra Party, e a eleição de líderes jovens como o prefeito de Katmandu, Balen Shah, refletem o descontentamento e a busca por alternativas fora do establishment.

Outros especialistas, incluindo Andrey Kortunov, Olga Kharina e Kirill Kotkov, observam que, embora o bloqueio de redes sociais tenha sido o estopim, as manifestações refletem tensões sociais e econômicas profundas. A RT destaca que empresas ocidentais cujas plataformas foram bloqueadas podem ter influenciado o movimento, promovendo narrativas de defesa da liberdade de expressão.

O resultado é uma revolta sem liderança clara, mas que evidencia a transformação de revoluções tradicionalmente políticas em movimentos fortemente impulsionados pela internet, prenunciando o possível formato de protestos futuros globalmente.