Este artigo está sendo republicado
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, encerra a semana pós Brumadinho na condição de morto-vivo dos escombros da tragédia da Vale.
Deu tudo errado para ele nos últimos sete dias.
Primeiro, logo após a tragédia que matou até aqui mais de 110 pessoas e deixou centenas de desaparecidos, descontando o estrago ambiental, teve de negar, numa entrevista claudicante, sua intenção de flexibilizar o processo de licenças ambientais de empresas de mineração.
“Não há nem nunca houve projeto nesse sentido”, disse, sem que ninguém acreditasse.
Em seguida, viu o general Augusto Heleno, chefe do gabinete de Segurança Institucional da presidência da República, fazer a lição de casa que ele não foi capaz.
“Parece que há alguma coisa que está falhando nesse licenciamento”, afirmou o general, atropelando Salles.
“Flexibilizar licenciamento ambiental significa ter regras rígidas, que permitam que algumas obras que dependem de licenciamento ambiental saiam do papel e aconteçam. Não afrouxar”.
Daí pra frente o presidente do movimento Endireita Brasil literalmente desapareceu.
Agora, para coroar a semana perfeita, viu o Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo determinar a retomada de um inquérito civil em que é citado por ter favorecido empresas de mineração em 2016, ao acolher mudanças nos mapas de zoneamento do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Tietê.
Nesta época, Salles comandava a pasta do Meio Ambiente de São Paulo na gestão de Geraldo Alckmin.
Acabou demitido, mas ao contrário do que muitos imaginam não por ter usado as prerrogativas de secretário para beneficiar e gerar mais lucros para empresas privadas.
Foi dispensado pelo conjunto da obra, numa gestão considerada um desastre em todos os sentidos.
Salles na secretaria do Meio Ambiente fez o que Bolsonaro condena no PT: politizou e ideologizou o setor.
Foi permanentemente criticado por pesquisadores e por ambientalistas por tomar decisões sem levar em consideração aspectos técnico-científicos e por ter aparelhado a secretaria com contratações de políticos para chefias de unidades de conservação.
Além de ter alterado o zoneamento da várzea do Tietê, uma área de proteção ambiental, teve de lidar com um inquérito do MP por dar andamento a uma proposta de negociação do imóvel da sede do Instituto Geológico, na capital, contrariando parecer de sua própria Consultoria Jurídica que considerava a iniciativa “de risco inaceitável” para o estado.
Em outro inquérito, respondeu por ter realizado chamamento público, sem autorização legislativa, para a concessão ou venda de 34 áreas do Instituto Florestal.
Nenhuma dessas iniciativas, porém, teve tanta repercussão quanto a ordem para a retirada de um busto de Carlos Lamarca de seu pedestal, e também de um painel com fotos e informações, do centro de exposição temático do Parque Estadual Rio Turvo, na região do Vale do Ribeira.
Alegou, confundido Lamarca com Carlos Marighella, que o material exposto era proselitismo ao comunismo.
“O parque está plantando o comunismo no coração das crianças”, justificou.
Com uma folha corrida dessas, e movimentando-se politicamente como um elefante em loja de cristais, não tardou para virar um problema para Alckmin, que àquela altura organizava a sua candidatura à presidência.
Dispensado, vagou solitário por um período até ingressar no partido Novo e ser derrotado na tentativa de conquistar uma cadeira na câmara dos deputados no ano passado.
Até ressurgir das cinzas como indicado ao ministério do Meio Ambiente por Bolsonaro.
A melhor definição sobre ele é de alguém despreparado, sem compromisso público, e que vai com muita sede ao pote.
No governo, seu primeiro gesto foi suspender – depois voltou atrás – convênios com entidades não-governamentais.
Em seguida, falou em flexibilizar as licenças ambientais, sem imaginar que a lama da Vale iria cobrir-lhe até o pescoço de vergonha.
Salles é um morto-vivo que só não foi enterrado ainda pela incapacidade de Bolsonaro de lidar com os próprios erros.