Ricardo Salles sumiu na crise porque criou as condições para as queimadas na Amazônia. Por José Cássio

Atualizado em 24 de agosto de 2019 às 9:42
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Foto: MARCELO CAMARGO/ABR

Assim como aconteceu após o desastre de Brumadinho, no início do ano, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, foi escanteado no auge da crise das queimadas na Amazônia.

Até para dar um sinal ao mundo após o vexame das declarações estapafúrdias de Bolsonaro, optou-se por uma intervenção militar meia boca.

A questão, na realidade, é menos o que se pode fazer daqui para a frente e mais o que já foi feito.

Segundo dados da Comissão de Meio Ambiente da câmara dos deputados, o desmatamento das áreas de floresta vinha numa movimentação crescente mas controlada desde de 2012 e aumentou de forma absurda após o segundo turno da eleição presidencial do ano passado.

“Foi quando generalizou a informação de que a fiscalização ia ser afrouxada e os mecanismos de controle iam parar de funcionar”, explica o presidente da Comissão, deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP).

Era a senha que faltava a agricultores, grileiros e toda sorte de interessados em abocanhar o seu quinhão da floresta.

O quadro se acentuou logo nos primeiros dias de Bolsonaro no poder.

A combinação de palavras de incentivo às invasões com medidas práticas sinalizou para todo mundo que o momento havia chegado.

Para se ter ideia do desmonte, cargos de Superintendentes do Ibama em estados da região Norte sequer foram indicados e estão vagos até agora. Sem comando, funcionários não têm a quem se reportar. Não há rotina de trabalho.

Recursos da ordem de R$ 250 milhões do serviço florestal foram contingenciados e o setor transferido da área do Meio Ambiente para a pasta da Agricultura.

Houve ingerência com demissões no ICMBio e no Ibama especialmente após a ordem de Ricardo Salles de proibir multas e destruição de equipamentos – caminhões, tratores, motosserra, correntões e outros – quando encontrados clandestinamente dentro da floresta.

“Foi a partir dessa desmobilização dos serviços, juntando com as palavras de incentivo do próprio presidente, que o pessoal se sentiu à vontade para sair desmatando”, diz Rodrigo Agostinho.

Segundo o deputado, generalizou entre as pessoas a tese do agora ou nunca.

As queimadas que estamos vendo são resultado de desmatamentos realizados entre outubro do ano passado e o primeiro semestre de 2019. Num primeiro momento, vendem-se as madeiras com a poda das grandes árvores.

O que resta é colocado no chão até a época da seca, como agora, quando então se coloca fogo para limpar a área.

Não por acaso governos da Europa ameaçam boicotar a carne brasileira se o desmate não for contido. Essa movimentação de derrubada foi executada inicialmente para colocar pasto no lugar. Não há planos de plantio exceto de capim por enquanto.

O ministro do Meio Ambiente foi tirado de circulação porque o seu trabalho já foi executado.

Criou as condições para as derrubadas.

Agora, neste momento de controlar o fogo ateado no que sobrou no chão, a velha-guarda de fardas dá um jeito de segurar a peteca e garantir que está tudo bem e vai passar.

Conforme Rodrigo Agostinho, há 70 mil pontos de incêndios espalhados pelos 9 estados que compõem a área da Amazônia Legal.

Tem muita lenha para queimar ainda.

Salles vai poder tirar uns dias de folga.

 

Jose Cassio
JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo