“Rinha de cães não é nem a ponta do iceberg. Faziam churrasco”, diz resgatador ao DCM. Por Caíque Lima

Atualizado em 18 de dezembro de 2019 às 0:01
Pitbull resgatado. Foto: Arquivo pessoal

Neste sábado (14), a Polícia Civil prendeu 41 suspeitos de organizarem uma rinha de cães com pitbulls em Mairiporã, na Grande São Paulo.

A Polícia Civil do Paraná investigava um carro que carregava um dos animais e o seguiu. Acionou a polícia de São Paulo, que entrou na chácara e prendeu os suspeitos em flagrante.

Os suspeitos vão responder por associação criminosa, maus-tratos contra animais com agravante de morte e jogo de azar.

19 pitbulls foram encontrados, todos bastante machucados, dois deles mortos.

Alessandro Desco é fundador da ong Pit’s Ales, que trata de resgate, tratamento, socialização e adoção de Pitbulls. Ele foi um dos responsáveis pelo resgate dos animais e conversou com o DCM.

Um vídeo enviado por Alessandro mostra a casa na qual os animais foram encontrados: o chão era coberto de sangue.

Uma das cadelas, desnutrida, estava presa numa caixa metálica, com apenas buracos para respirar, onde “ficava passando fome, para ficar brava”.

O vídeo ainda mostra que uma das cadelas estava amamentando, sinal de que deu cria recentemente. Seus filhotes não foram encontrados.

Vanessa Cristina Pereira cria projetos e leis de políticas públicas para animais em São Paulo. Ela é parceira de Alessandro em algumas ações.

“Todos os cães são extremamente medrosos e submissos. Eram criados para brigar e mal tinham contato com o ser humano. No local havia algumas caixas furadas para que eles se alimentassem e tomassem água sem precisar sair. Como se fossem prisioneiros mesmo”, diz.

Em imagens do resgate, Alessandro mostra os cachorros, dóceis, assustados e principalmente magros. Um dos animais mal consegue respirar, “morrendo, resultado de uma rinha”, diz Alessandro.

Na segunda-feira (16), a Polícia localizou o sítio de um dos presos em Itu. No local foram encontrados 33 pitbulls. Alessandro participou do resgate novamente.

“Os cães estavam ali [na chácara em Itu] acorrentados ao chão. Eram cães que estavam sendo preparados para rinha, ou cães que davam crias e eles vendiam preparados para rinha”, ele conta.

 

PONTA DO ICEBERG

Durante o resgate dos animais foram encontrados materiais que mostram as dimensões e o quão duradouro é o “negócio”.

Uma camiseta do “campeonato” foi encontrada no local. A parte da frente estampa 4×4 e a figura de dois pitbulls.

A parte traseira dela diz se tratar de um circuito nacional/internacional, quatro contra quatro, na etapa Sudeste-Brasil e a 17ª edição.

Camiseta do torneio de rinhas. Foto: Arquivo pessoal

Um dos vídeos também mostra uma cadela que foi transportada internacionalmente pelos criminosos.

Um voo transportando um dos cães partiu do México e seu destino foi o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

Passagens encontradas registram voo com um pet do México a São Paulo. Foto: Arquivo Pessoal

Segundo Alessandro, “a rede de rinhas de pitbulls é muito grande, isso não é nem a ponta do Iceberg. Vem acontecendo há anos, é uma máfia que gera muito lucro: tem cão que vale R$100 mil, cão que vale R$200 mil. Há apostas altíssimas”.

“Vinham dos Estados Unidos, México, Peru, Paraná. Lá em Mairiporã eles alugavam o espaço para desenvolver o torneio de rinha. Eles ficam em locais afastados, isolados, bem escondidos”.

Ele acredita que a repercussão desse caso vai ajudar a acabar com esse negócio internacional: “Agora vai começar o inferno. É questão de tempo e esperar os fatos aparecerem”.

CHURRASCO DE CACHORRO 

Carne de cão assada, encontrada na chácara em Mairiporã. Foto: Arquivo pessoal

Além da crueldade de colocar os animais para brigarem até a morte, alguns deles são reduzidos a alimentos quando perdem a serventia comercial. 

A Polícia Civil encontrou carne assada.

Segundo o dono da Pit’s Ales, “eles assam cachorros que morrem na rinha, comem e dão a carne para outros que estão na rinha para brigar”.

Ele conta que houve uma perícia e se concluiu que o churrasco servido aos participantes do evento era, na verdade, carne de cachorro.

Da chácara em Itu, ele conta que era um cenário horrível e que “o cara [dono da chácara] mexe com magia negra, sacrifício de animais”.

Alessandro é dono da Pit’s Ales e resgatou os animais. Ele está pedindo doações para cuidar deles: