“Risco concreto”: Justiça mantém prisão de Daniel Vorcaro, do Banco Master

Atualizado em 20 de novembro de 2025 às 9:33
Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. Foto: Reprodução

A Justiça decidiu manter a prisão de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. A desembargadora Solange Salgado, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), rejeitou o pedido de liberdade apresentado pela defesa. Em sua decisão, afirmou que “a interrupção dos atos criminosos faz-se imperiosa” e que “a liberdade do paciente, neste cenário de fraude sistêmica e obstrução da fiscalização, representa risco concreto”.

A magistrada citou “indícios veementes de gestão fraudulenta e organização criminosa” e argumentou que “há fortes indícios de que a organização criminosa se manteve em plena atividade”. Para ela, o caso revela fornecimento de “informações inverídicas” e criação de “falsa narrativa” ao Banco Central (BC).

“A complexidade do esquema, com o fornecimento de ‘informações inverídicas’ e a criação de ”falsa narrativa’ ao Banco Central são indicativos do comportamento obstrutivo e da sofisticação da fraude que, somados ao amplo poder econômico do paciente, configuram um risco atual à ordem pública e à ordem econômica”,

Vorcaro é apontado como um dos líderes de uma organização voltada à prática de múltiplos crimes contra o sistema financeiro, com prejuízos bilionários. A defesa argumentou que a prisão da Polícia Federal se apoiou em fundamentos genéricos e que não havia risco atual, citando ainda que o empresário viajaria aos Emirados Árabes para negociar a venda do Master.

Grupo de pessoas deixa o banco Master após prisão de Daniel Vorcaro, nesta terça (18). Foto: Amanda Perobelli/Reuters

A investigação aponta que o BRB fez operações irregulares para ajudar o Master enquanto o Banco Central analisava a proposta de compra do banco. Mesmo após o BC vetar o negócio, as instituições negociaram carteiras de crédito para captar recursos. Para o Ministério Público Federal (MPF), o Master “teria adquirido carteiras de crédito” de uma empresa dirigida por um ex-funcionário “sem realizar qualquer pagamento” e revendido os títulos ao BRB, movimentando R$ 12,2 bilhões entre janeiro e maio de 2025.

Relatórios do BC mostram que o banco privado justificou as operações dizendo que os créditos vieram de associações de servidores da Bahia. Auditores, porém, descobriram movimentações incompatíveis com essas entidades e identificaram “indícios de insubsistência”, sugerindo que as operações não tinham comprovação real. Um pente-fino em 30 supostos clientes revelou ausência de correspondência entre contratos e fluxo financeiro.

Após novas exigências do BC, o BRB apresentou uma amostra maior, com 100 contratos, e as inconsistências se repetiram. A titularidade dos títulos foi então atribuída à empresa Tirreno, criada no fim de 2024 por alguém que já havia registrado firmas semelhantes. A PF vê o movimento como indício de “empresa de prateleira”. A Tirreno elevou seu capital social, nomeou um ex-funcionário do Master e formalizou mudanças societárias somente depois das operações com o BRB.

O MPF apontou que contratos não estavam autenticados e que documentos só foram registrados meses após as transações. Para os investigadores, “mostra-se atípico e desarrazoado” que o BRB só tenha exigido papéis adicionais após ser pressionado pelo BC, sobretudo em operações de R$ 12,2 bilhões.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.