RJ: Guerra entre milícia e tráfico eleva números da violência em reduto dos Brazão

Atualizado em 29 de março de 2024 às 12:45
Criminosos queimaram ônibus em protesto por prisão de miliciano no Rio. Foto: Polícia Militar do Rio de Janeiro.

O ano de 2023 foi marcado por recordes alarmantes em indicadores de violência em Jacarepaguá, o bairro mais populoso do Rio de Janeiro e palco de intensas disputas entre milicianos e traficantes, incluindo a forte influência dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, acusados de serem os mandantes da morte de Marielle Franco em 2018.

Dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), obtidos pelo G1, revelam que vários indicadores atingiram o ponto mais alto desde o início da série histórica em 2003.

Entre os indicadores que alcançaram recordes em 2023, destacam-se:

  • Extorsão: 256 casos registrados;
  • Letalidade violenta (assassinatos): 250 casos;
  • Pessoas desaparecidas: 262 casos;
  • Morte por intervenção de agentes do estado (autos de resistência): 83 casos.

Jacarepaguá, com uma população de 653 mil habitantes, tem sido palco de uma guerra entre milicianos e traficantes, com episódios de violência que têm preocupado autoridades e residentes da região.

A disputa entre os grupos criminosos tem causado um aumento significativo nos índices de letalidade violenta, que passou de 105 registros em 2021 para 250 casos em 2023. Esses números incluem homicídios dolosos, lesões corporais seguidas de morte, mortes por intervenções de agentes do estado e latrocínios.

Segundo as investigações da Polícia Federal, as disputas territoriais entre milicianos e traficantes estão relacionadas à exploração econômica da região, especialmente em áreas como a grilagem de terras e a expansão imobiliária. Esses conflitos podem estar ligados à morte da vereadora Marielle Franco, que se opunha aos interesses dos grupos milicianos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

O aumento da violência em Jacarepaguá também está relacionado à expansão do Comando Vermelho na região. Nos últimos dois anos, pelo menos 14 favelas foram dominadas pela facção criminosa, que busca estabelecer o “Complexo de Jacarepaguá” na Zona Oeste do Rio.

Os irmãos Brazão ao lado de Flávio Bolsonaro. Foto: reprodução

Além dos confrontos entre traficantes e milicianos, a região também enfrenta problemas como extorsão e desaparecimento de pessoas. O número de casos de extorsão aumentou de forma significativa, passando de 30 registros em 2003 para 256 casos em 2023, um aumento de 753%.

Os dados também mostram um aumento nas mortes por intervenção de agentes do estado, que passaram de 27 casos em 2022 para 83 casos em 2023.

Em entrevista ao G1, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, destacou a necessidade de repensar o patrulhamento na região, considerando a alta densidade demográfica e os problemas de trânsito que dificultam o acesso das viaturas da Polícia Militar.

Além disso, ele destacou que o narcotráfico não é o único foco de renda para os grupos criminosos. “O tráfico não está mais focado em venda de drogas. Eles começaram a ver que outras receitas têm muito mais rentabilidade: cobrar taxa de segurança, água, luz, gás, mototáxi, van, transporte alternativo de forma geral”, explicou.

Essas fontes de rendas variadas fomenta a disputa de áreas entre milicianos e facções como o Comando Vermelho. “Hoje, o território é disputado por conta dessa capacidade financeira, isso agregado a uma grande população. Essa região é muito atrativa por conta disso”, disse ele.

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