Roda Viva: Vera Magalhães nega machismo e critica mimimi de Manuela D’Ávila. Por Miguel Enriquez

Atualizado em 27 de junho de 2018 às 16:28
Manuela, com Vera ao fundo.

Uma das estrelas do “jornalismo de opinião” da Jovem Klan, apelido carinhoso para a rádio Jovem Pan, um dos baluartes da direita conservadora na mídia brasileira, a jornalista Vera Magalhães saiu em defesa do escandaloso tratamento dispensado à pré-candidata Manuela D’Ávila, na última edição do programa Roda Viva, da TV Cultura, no qual participou como entrevistadora.

Em depoimento ao programa Morning Show, da JP, Vera, não por acaso também colunista de outro pilar do conservadorismo político, o jornal O Estado de S. Paulo, investiu com veemência contra a interpretação de que Manuela foi vítima de machismo no Roda Viva, ao ser interrompida por mais de 40 vezes durante sua participação.

Depois de criticar a presença do fazendeiro Frederico D’Avila (nenhum parentesco com a candidata) , coordenador do programa rural de Jair Bolsonaro, entre os entrevistadores, Vera procurou situar o nível das discussões entre os participantes do programa. “Em vários momentos, trocaram farpas, trocaram acusações, de ordem política, político ideológica, mas não em questões de gênero. Não houve machismo”, afirmou. “Houve interrupções, mas também houve em outras entrevistas.”
Segundo ela, citando as práticas do jornalismo histérico e tendencioso da JP, interrupções são bem-vindas, fazem parte do bom jornalismo. “No Brasil estamos acostumados com entrevistas bobinhas, frias, chapas brancas, cheia de regras, que os candidatos recortam e utilizam em suas rede sociais.”

Um detalhe: ela simplesmente minimiza o massacrante número de interrupções (62), que muitas vezes impediram a candidata do PCdoB de concluir suas respostas às perguntas dos entrevistadores. Para comparar, basta lembrar que no mesmo programa, Guilherme Boulos( PSOL) foi interrompido 12 vezes e Ciro Gomes ( PDT) 8. Mais: dos 90 minutos de duração do Roda Viva, o tempo efetivamente utilizado por Manuela, de acordo com o próprio âncora Ricardo Lessa, foi de 40 minutos, menos de 50% do total.

Comum tanto na política quanto no mundo dos negócios, esse menosprezo à opinião feminina tem até uma denominação em inglês: manterrupting. Quem não se lembra, por exemplo, do tratamento dispensado à então candidata a presidente Dilma Rousseff, na eleição de 2010, pelo âncora William Bonner, do Jornal Nacional,da Globo? Foram tantas as vezes que Bonner interferiu nas respostas de Dilma, que sua então companheira de bancada e esposa, Fátima Bernardes, chamou-lhe a atenção. Essa postura deselegante voltou a repetir-se em 2014: em 15 minutos Bonner interrompeu Dilma nada menos de 21 vezes. Já com os candidatos da oposição, como Aécio Neves e Eduardo Campos, o belicoso âncora  se transformou num gatinho.

Ou seja, o machismo no comportamento dos entrevistadores do Roda Viva, que contaram com a leniência e a omissão do âncora Lessa, não precisava de referências ao sexo da candidata, ou de absurdos como seriam referências à sua suposta inferioridade para ocupar a presidência da República. Ele está presente no desrespeito à mulher Manuela d’Avila, que contou com a cumplicidade de Vera Magalhães.

Depois de acusar Manuela de tergiversação em várias questões apresentadas, como as relações dela e de seu partido como o PT e com o ex-presidente Lula ( no programa Vera chegou a chamá-la de advogada de Lula) –o que não está em discussão e não autoriza a deselegância da bancada do Roda Viva- Vera Magalhães define a reação contra os abusos e a imputação de machismo como uma falsa polêmica. “Acho que os candidatos brasileiros têm de parar de mimimi e dizer o que pretendem para o Brasil, quais os planos e quais os projetos.”

.x.x.x.

O comentário de Vera Magalhães começa a 1 minuto e 39 segundos do vídeo abaixo: