
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) completa quatro meses vivendo nos Estados Unidos. Desde fevereiro, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sustenta a narrativa de estar em um “exílio político”, ao mesmo tempo em que tenta articular sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Com informações do Estadão.
No entanto, sua permanência prolongada no país tem gerado críticas entre parlamentares aliados, que apontam a ausência de resultados concretos e reprovam a exposição pública de passeios e viagens luxuosas compartilhadas por sua esposa, Heloísa Bolsonaro.
A localização exata da residência da família Bolsonaro nos EUA não foi oficialmente revelada, mas há registros em estados como Texas e Flórida. Eduardo cogita permanecer de forma indefinida no país, considerando pedidos de asilo político ou mudanças para vistos de trabalho.
Ele chegou até a admitir, nos bastidores, que pode renunciar ao mandato parlamentar. Segundo aliados, sua avaliação é de que só poderá retornar ao Brasil caso consiga uma punição efetiva contra Moraes — missão que, até agora, não teve êxito.
Durante sua estadia, Eduardo esteve ao menos duas vezes na Casa Branca. Em abril, posou ao lado do comentarista Paulo Figueiredo Filho, descrevendo a visita como “um dia de trabalho”. O ex-assessor de Donald Trump, Jason Miller, também registrou a presença.
Ele ainda concedeu entrevistas a veículos como o canal brasileiro AuriVerde Brasil e se reuniu com parlamentares americanos, incluindo Brian Mast e Cory Mills, que questionaram o Departamento de Estado dos EUA sobre o magistrado brasileiro. A fala mais expressiva veio do senador Marco Rubio, que mencionou a possibilidade de aplicar a Lei Magnitsky contra Moraes — mas o discurso foi considerado genérico até por aliados.
Apesar dos esforços diplomáticos, o discurso do deputado federal perdeu força com a queda no número de manifestantes nos atos pró-Bolsonaro. A manifestação em abril na Avenida Paulista atraiu apenas 44,9 mil pessoas, um número muito inferior aos 185 mil registrados em fevereiro. No Rio, o número foi ainda menor: 18,3 mil participantes em março.
Internamente, aliados consideram que Eduardo Bolsonaro e seus apoiadores superestimaram a influência que o Brasil teria na agenda norte-americana. A recente ironia feita por Jair Bolsonaro ao sugerir Alexandre de Moraes como seu vice em 2026 durante um julgamento foi vista como um erro político, que enfraquece a retórica sustentada pelo parlamentar no exterior.
Ao mesmo tempo, a família dele desfruta da vida americana. Em maio, o deputado, sua esposa e o irmão, senador Flávio Bolsonaro (PL), participaram de um rodeio da PBR no Texas. Também comemoraram o aniversário de Heloísa na Disney, em Orlando, com a presença da mãe do deputado, Rogéria Bolsonaro.

Heloísa compartilhou registros da casa onde se hospedaram e brincou: “Invejosos dirão que é a mansão que estamos morando”. Posteriormente, apagou as publicações.
A residência onde Heloísa foi filmada está localizada em Arlington, no Texas, em um bairro onde imóveis custam entre US$ 600 mil e US$ 1 milhão. O endereço coincide com a localização de uma antiga empresa da qual Eduardo foi sócio. Apesar das postagens recentes afirmarem que vivem em um bairro de classe média, o padrão de vida chamou atenção de parlamentares, que criticaram o que chamam de “ostentação desnecessária”.
As despesas nos Estados Unidos são mantidas com recursos próprios e com apoio financeiro do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo o próprio pai, foram enviados cerca de R$ 2 milhões para auxiliar na estadia. Eduardo também reclamou da falta de suporte financeiro do PL e chegou a cogitar migrar para o PP.
Para ele, a família vive um momento difícil, e as viagens e eventos seriam uma forma de lidar com a pressão. No entanto, aliados avaliam que a mudança para os EUA já estava nos planos do casal e que a narrativa de perseguição serviu como justificativa conveniente. Uma comparação feita por um deputado classificou Heloísa como a “Janja da direita”.
Apesar da ausência física, o deputado é apontado como favorito para disputar uma vaga no Senado Federal em 2026. Há também especulações sobre uma candidatura presidencial, embora a decisão final dependa de Jair Bolsonaro. Caso concorra ao Legislativo, há quem defenda que ele poderia manter residência nos EUA e conduzir a campanha com base na narrativa de exílio.
Especialistas contestam o uso do termo “exílio político”. O professor de Relações Internacionais da UFABC, Demétrio Toledo, afirma que não há justificativa legal ou risco concreto à integridade de Eduardo Bolsonaro no Brasil.
“Um, porque não se trata de ditadura, de um estado de exceção, mas se trata de um estado democrático de direito em mais pleno e total funcionamento. Depois, não existe no estado democrático de direito o castigo à pena do exílio imposto. E o terceiro elemento é que não há nenhum risco, o Eduardo Bolsonaro, a [Carla] Zambelli, eles não correm nenhum risco no país. O que eles querem é evadir a lei”, resume.
Segundo o advogado de imigração Marcelo Godke, o deputado pode buscar alternativas legais para permanecer no país, como a extensão do visto B1/B2, que permite estadas temporárias, ou mudança para visto de trabalho. O pedido de asilo é possível, mas sua aprovação dependeria de critérios técnicos e não da articulação política com congressistas americanos.
Enquanto isso, a rotina da família Bolsonaro nos EUA continua sendo compartilhada por Heloísa em suas redes sociais, com foco na criação dos filhos e em momentos de lazer — um estilo de vida que remete, segundo analistas, ao famoso “American Way of Life”.