O influenciador baiano Rodrigo Amendoim foi encontrado morto em seu apartamento em Lauro de Freitas, na Bahia. Ao lado do corpo, um revólver e um carregador.
Evidentemente, não se pode determinar a causa da morte antes da conclusão das investigações conduzidas pela Polícia Civil do estado da Bahia, mas a maior suspeita até o momento é que se trata de um caso de suicídio.
Carinhosamente apelidado pelos amigos e milhões de seguidores de “Mendo”, o influenciador sofria de depressão, segundo amigos próximos.
Aqui, um parêntese: antes de se tornar um influenciador de sucesso, Rodrigo era ambulante e vivia em uma casa humilde de madeira.
Há quem pense que pessoas bem-sucedidas profissional e financeiramente estão a salvo de doenças como a depressão. Ledo engano: Whindersson Nunes, um dos maiores humoristas do Brasil, que o diga.
Realizado profissionalmente e podendo contar com muitos amigos e familiares, Whindersson também tem depressão, e já falou publicamente sobre o assunto diversas vezes.
É óbvio que não se trata apenas de dinheiro ou classe social: todos estão sujeitos a essa doença perigosa e tantas vezes fatal, que vem crescendo e fazendo cada vez mais vítimas no Brasil e no mundo.
Não se pode olvidar, entretanto, que o surto de depressão que temos vivido, sobretudo no Brasil, é, além de um problema de saúde pública, uma questão social.
Rodrigo Amendoim trabalhou desde seus 12 anos como vendedor ambulante nas ruas de Salvador. Foi criado pela irmã e teve uma infância difícil, tendo sofrido violência por parte de sua tutora, que chegou a entregá-lo para ser criado pelo pai, que, por sua vez, expulsou Rodrigo de casa e trancava a geladeira para que o filho não pudesse se alimentar.
Assim como outros transtornos mentais – também ainda sendo tratados como questões de segunda ordem – a depressão atinge sobreviventes de traumas, independente de sua condição financeira e classe social, mas é agravada entre os mais pobres, por razões óbvias.
Como não ficar deprimido quando não se tem moradia digna, afeto e segurança alimentar, o básico para que um ser humano viva com a mínima dignidade? E o que fazem os órgãos de saúde mental a esse respeito?
Criam o “setembro amarelo”, uma campanha de conscientização contra o suicídio que, na prática, se resume a postagens genéricas nas redes sociais orientando as pessoas com ideações suicidas.
Não adianta dizer a uma pessoa que não se mate quando ela não tem o que comer, vive sob intensa violência e segregação e tem sua depressão tratada como “frescura” ou “falta de fé”.
Tratar a depressão como questão social e de saúde pública não pode se limitar a uma campanha uma vez por ano: é preciso, antes de tudo, reconhecer que o surto de suicídios que temos presenciado são resultados de uma sociedade desigual e cruel, e que isso é, sim, responsabilidade de todas e todos.
A taxa de suicídio no Brasil cresceu inacreditáveis 43% na última década, um percentual mais do que preocupante, e ainda lidamos com este problema com campanhas superficiais que pouco ajudam?
É preciso garantir que todas as pessoas – sobretudo as mais pobres – tenham não apenas condições de se tratarem adequadamente através do Sistema Único de Saúde – onde encontrar um psicólogo gratuito é como encontrar uma agulha num palheiro -, mas também de terem uma vida digna, livre de desigualdades e mazelas sociais.
Rodrigo Amendoim morre como parte de uma triste estatística, a qual, infelizmente, continuará crescendo enquanto não reconhecermos que a depressão é um problema social e de saúde pública.
Gente feliz é gente sem fome, com moradia digna e tratamento psicológico e psiquiátrico adequado, quando necessário.
Quantos ainda precisarão morrer para que entendamos isso?