Roger Waters critica embargo à Cuba e diz que EUA vêem América Latina como balcão de negócios

Atualizado em 17 de julho de 2021 às 19:09
Roger Waters fala sobre Cuba e a origem de sua identificação com a esquerda – Mauro Pimentel | AFP

Originalmente publicado em BRASIL DE FATO

Por Ana Paula Rocha

O consagrado músico britânico Roger Waters, ex-integrante da icônica banda Pink Floyd, defendeu de forma categórica a necessidades de os Estados Unidos retirarem o embargo econômico a Cuba, uma política que dura décadas e mantém o país apartado da dinâmica economia internacional. A mesma urgência tem sido ressaltada pelo atual presidente cubano, Miguel Díaz-Canel. O democrata Joe Biden, que assumiu a Casa Branca em janeiro deste ano, manteve as 243 sanções à ilha assinadas pelo ex-presidente republicano Donald Trump.

Waters conversou por vídeo com o historiador e jornalista indiano Vijay Prashad na última quarta-feira (14). O papo girou em torno dos últimos acontecimentos em Cuba, abordando temas como a luta do país contra as interferências estadunidenses e a importância da ilha para a luta anti-imperialista.

Diante dos atuais protestos em Cuba e da intensa pressão externa sobre o governo da ilha, Waters relembra a importância do país como liderança nas lutas anti-imperialistas – particularmente contra o imperialismo estadunidense – não somente na América Latina, como em outras regiões do mundo: “Em sua luta constante, o povo cubano não só resistiu às tentativas [de invasão] dos Estados Unidos, como conseguiu em maior ou menor grau espalhar amor por seus irmãos e irmãs”, disse.

Waters exemplifica esse “amor” citando o envio de tropas a nações africanas, em apoio às lutas de independência na década de 1970, e a ajuda médica oferecida pelos cubanos ao longo da atual pandemia da covid-19.

Á esquerda

No campo pessoal, o músico também falou sobre a origem de sua identificação política com a esquerda. Ele conta que durante sua infância, entre a segunda metade da década de 1940 e o começo dos anos 1950, sua mãe o levava à Associação de Amizade Anglo-Chinesa, na Inglaterra (Britain-China Friendship Association, em inglês). Foi lá que o jovem Waters assistiu filmes sobre a Grande Marcha em apoio ao líder comunista chinês Mao Tsé-Tung, seu primeiro contato com as lutas anti-imperialistas dos países à época conhecidos como “Terceiro Mundo”.

Da China a Cuba não se passou muito tempo. Até 1959, ano da queda do ditador cubano Fulgêncio Batista, Waters conta que “tudo o que sabia sobre [Cuba] é que se tratava de uma ilha caribenha liderada por gângsters, por déspotas”, afirma. “Provavelmente, eu comecei a pensar sobre Cuba muito antes que outras pessoas o fizessem”.

Toda essa trajetória contribui para que Waters seja considerado um ponto fora da curva no universo artístico, ainda mais em uma realidade na qual rock stars da estatura de Eric Clapton e John Dolmayan (da banca System of a Down) expressam opiniões políticas consideradas controversas – o primeiro é antivacina e o segundo apoiou a reeleição de Trump.

Em quase vinte minutos de entrevista, Waters foi de Cuba à China, passando pelo Chile e pelo Haiti. Durante todo vídeo é visível atrás dele um keffiyieh, lenço símbolo da luta dos palestinos.

Sobre a atual situação do Haiti, o músico considerou que não se trata de uma novidade na História do país. “Em São Domingo e no Haiti vemos as mesmas coisas acontecendo agora: interferência dos Estados Unidos na tentativa de manter este reduto de grandes negócios”, recorda. O Haiti vive situação preocupante: desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, na madrugada de 7 de julho, o país caribenho aprofundou sua instabilidade diante do vácuo de poder.

Waters aproveitou o bate-papo para recomendar documentários que considera importantes pelas temáticas que abordam: “Eu não sou seu Negro” (2017) e “Exterminate all the Brutes” (2021), ambos do diretor Raoul Peck, e “À Procura de Oscar” (2016), que tem como pano de fundo um massacre na Guatemala dos anos 80.

Veja abaixo o vídeo da entrevista completa em inglês: