Roger Waters rebate cancelamento e diz não ao lobby sionista: “Faço esse show há 40 anos. Por que agora?”

Atualizado em 11 de junho de 2023 às 11:08
Roger Waters no DDN, Double Down News

Roger Waters gravou um depoimento para o canal Double Down News sobre a perseguição que sofre por causa de sua defesa da causa palestina.

O uso de imagens e figurinos associados ao nazismo durante um show em Berlim, em meio a acusações de antissemitismo, criaram-lhe uma onda de cancelamento, mas ele não vai se calar. É, provavelmente, o artista mais corajoso do mundo, hoje.

O fundador e cérebro do Pink Floyd pós-Syd Barrett discutiu os elementos cênicos de “This is Not a Drill”, turnê que passará pelo Brasil no fim do ano.

“Faço isso há 40 anos – 40 anos. Entre quase todo ano entre 1980 e agora, eu faço partes desse show [inspirado em ‘The Wall’]. Por que agora? Por que de repente pessoas começaram a falar: ‘Ele está usando uma réplica de uniforme nazista no palco’, ‘ele obviamente está glorificando o Terceiro Reich e nazismo’, ‘ele está fazendo isso como parte de sua atitude geral, que é odiar judeus’? Em tudo quanto é lugar no mundo ocidental, tudo é: ‘Roger é antissemita e glorifica o nazismo vestindo um negócio’”, diz.

“Nem dá para acreditar. Não se engane. Eu posso estar gritando e posso parecer poderoso ou sei lá, mas eu ainda estou bem chateado. Eu não acredito que estejam tentando fazer isso comigo. Estou chateado demais por ser chamado dessas coisas. Isso é profundamente insultante não só pra mim, mas para minha família, particularmente minha mãe e meu pai.”

O pai de Roger, Eric Fletcher Waters foi oficial britânico do 8º Batalhão dos Fuzileiros Reais, morto em 1944 durante a Segunda Guerra Mundial em Anzio, na Itália, pelo exército de Hitler. A morte do pai ocupa boa parte da obra de Roger.

O músico também explicou que tirou a estrela de Davi do porco inflável que flutua sobre a plateia em 2013, após um concerto na Bélgica. Era uma crítica aos dogmas religiosos: o símbolo judaico estava junto a uma cruz e uma lua crescente com a estrela, emblemas do cristianismo e do islamismo.

A menção a Anne Frank no telão, outro motivo para as acusações de antissemitismo, faz parte de um protesto denunciando os jovens mortos pelo Estado.

O nome de Anne, a menina de 14 anos morta num campo de concentração e que deixou um diário mundialmente famoso, aparece junto ao da jornalista palestina Shireen Abu Akleh, assassinada pelo exército israelense, e o de Marielle Franco.