Ronaldo e Pelé podiam ter passado sem mais essa

Atualizado em 20 de junho de 2013 às 14:54

A bambuzada merecida que os dois ex-craques estão tomando por causa de seus vídeos.

Eles
Eles

Demorou para sobrar para Ronaldo e Pelé. Não que eles não mereçam.

Um vídeo de 2011, recuperado pelo Lance, em que o Fenômeno diz que “Copa do Mundo não se faz com hospitais” transformou-se em viral. As reações negativas motivaram um pedido de desculpas do ex-jogador – também equivocado.

“Posso de fato não ter me expressado tão bem e a edição que eu vi na internet é bastante tendenciosa”, disse ele. “Era outro contexto. Não é justo usar como se fosse dito essa semana. Tenho sentido orgulho de ver os protestos pacíficos e democráticos pelo país. Espero que se espalhem cobrando, todos os anos, a melhor gestão do gasto público”.

As imagens têm dois anos, mas a bobagem resistiu ao teste do tempo graças ao que Ronaldo faz e representa hoje.

Apesar de seus esforços sobrehumanos para justificar o indefensável – trabalhar como dirigente do Comitê Organizador Local do Mundial, comentarista da Globo e empresário de jogadores que estão em campo –, pouca gente acredita em suas boas intenções. Ninguém mais é tão bobo.

Ronaldo não pode achar que não tem nada a ver com isso, que é apenas o entregador de pizza e está na farra por acaso.

O vídeo de Pelé é novo em folha – mas consegue ser pior. O maior jogador de futebol de todos os tempos aparece com uma clássica camiseta canarinho da finada CBD fazendo um apelo patético: “Vamos esquecer todas essas confusões acontecendo no Brasil, todas as manifestações, e vamos pensar que a seleção brasileira é o nosso país, é o nosso sangue”.

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Esquecer o que, Pelé? Como? Era brincadeira, então?

Pelé é cobrado, há muito tempo, pelas besteiras que diz. Eu acho que existe uma dose de má vontade com ele. Não concordo com os ataques cafajestes de Romário. Mas Pelé não ajuda. Essa declaração infeliz ecoa, de certa maneira, aquela dita em 1969, quando fez o milésimo gol: “Vamos proteger as criancinhas necessitadas”.

Na época, Pelé tomou bambuzadas da esquerda, que o chamou de demagogo e cobrou-lhe uma posição firme sobre a ditadura. Mas quem achou que era coisa de patrulheiro, por amor às maravilhas que ele fez no gramado, é obrigado a concordar que Pelé tem um problema grave em enxergar qualquer coisa que aconteça fora da Vila Belmiro. (Sem contar, claro, que ele não tem um assessor ajuizado para aconselhá-lo a simplesmente ficar calado).

Não há ninguém, neste momento, com estatura moral para pedir que os brasileiros botem a viola no saco, voltem para casa, sentem-se na poltrona com um pacote de Pringles sabor barbecue e ouçam Galvão Bueno berrar. Nem o Papa.

Pelé tem negócios na Copa. Ronaldo também. O mundo tem conhecimento disso. O fato de os dois acreditarem que as pessoas não saibam como eles atuam ajuda a explicar por que tanta gente os considera relíquias suspeitas.