Rosa Weber detona terroristas de Brasília e promete punição rigorosa a “turma movida pelo ódio”

Atualizado em 1 de fevereiro de 2023 às 12:47
Ministra do STF Rosa Weber. (Foto: Reprodução)

Foi iniciada nesta quarta-feira (01) às 10h, a sessão solene de abertura do ano judiciário de 2023 pelo Supreno Tribunal Federal. Durante a abertura, a atual ministra e presidente do STF, Rosa Weber, realizou um discurso de repúdio aos atos terroristas ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro.

Esta foi a primeira sessão realizada no tribunal após a destruição do prédio principal por terroristas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em seu discurso de cerca de 30 minutos, a ministra foi aplaudida em mais de um momento, sobretudo quando falou sobre punições aos golpistas.

“Possuídos de ódio irracional, quase patológico, os vândalos, com total desapreço pela república e imbuídos da ousadia da ignorância, destroçaram bens públicos sujeitos a proteção especial, como os tombados pelo patrimônio histórico, mobiliário, tapetes e obras de arte”, declarou Weber.

Confira na íntegra o discurso:

Senhores Ministros desta Suprema Corte, de hoje, de ontem e de sempre,

Senhor Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva,

Senhor Presidente do Senado e do Congresso Nacional, Senador Rodrigo Pacheco,

Senhor José Sarney, ex-presidente da República que nos honra com sua presença, a quem muito deve o Brasil pela reconstrução do processo democrático, seja pela convocação da Assembleia Nacional Constituinte, seja pela neutralização dos dispositivos autoritários constantes da Carta constitucional outorgada em 1969,

Senhor Procurador Geral da República, Doutor Augusto Aras,

Senhor Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Doutor José Alberto Simonetti, demais autoridades presentes, que saúdo na pessoa da Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Presidente do Superior Tribunal de Justiça Servidores e servidoras do Supremo Tribunal Federal,

Profissionais da imprensa, Senhoras e senhores.

Em 12 de setembro de 2022, quando assumi, neste plenário, a Presidência do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, expressando o desejo de que todos vissem na solenidade uma celebração da democracia e do primado das liberdades, minhas primeiras palavras foram de reverência incondicional à autoridade suprema da Constituição e das leis da República; de crença inabalável na superioridade ética e política do Estado Democrático de Direito; de prevalência do princípio republicano e suas naturais derivações, com destaque à essencial igualdade entre as pessoas; de estrita observância da laicidade do Estado brasileiro, com a neutralidade confessional das instituições e a garantia de pleno exercício da liberdade religiosa; de respeito ao dogma fundamental da separação de Poderes; de rejeição aos discursos de ódio e repúdio a práticas de intolerância enquanto expressões constitucionalmente incompatíveis com a liberdade de manifestação do pensamento; e de certeza de que sem um Poder Judiciário independente e forte, sem juízes independentes e sem imprensa livre, não há democracia.

Essa a minha profissão de fé como magistrada, disse eu naquele momento. Hoje, quatro meses e meio depois da minha posse como Chefe do Poder Judiciário brasileiro, nesta sessão solene, revestida de especial simbolismo, de abertura do ano judiciário de 2023, neste mesmo plenário, totalmente reconstituído após a invasão criminosa do dia oito de janeiro último por uma turba insana movida pelo ódio e pela irracionalidade, reafirmo minha profissão de fé como juíza e a ela acresço, em reforço, o que erigi como norte da atual administração desta Casa: a proteção da jurisdição constitucional e da integridade do regime democrático, ou, mais simplesmente, a defesa, diuturna e intransigente, da Constituição e do Estado Democrático de Direito.

Há três semanas o emblemático prédio histórico onde nos encontramos, as instalações do Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, sedes dos três pilares da democracia brasileira, foram alvo de ataque golpista e ignóbil, dirigido com maior virulência contra esta Suprema Corte seguramente porque ela, ao fazer prevalecer em sua atuação jurisdicional a autoridade da Constituição, se contrapõe a toda sorte de pretensões autocráticas.

Possuídos de ódio irracional, quase patológico, os vândalos, com total desapreço pela res publica e imbuídos da ousadia da ignorância, destroçaram bens públicos sujeitos a proteção especial, como os tombados pelo patrimônio histórico, mobiliário, tapetes e obras de arte. Também em sanha deplorável estilhaçaram vidraças, espelhos e luminárias, quebraram painéis, bancadas e mármore, rasgaram retratos e livros, destruíram equipamentos digitais e de áudio e vídeo, câmeras, computadores e impressoras, engendrando um cenário de caos a provocar sentimento de profunda repulsa diante de tamanha indignidade.