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Russomanno e o mistério da tradutora de libras. José Cássio

A tradutora de libras mitando

 

Com exceção de Celso Russomanno, aparentemente menos lerdo do que no confronto anterior, os candidatos à prefeitura de São Paulo não economizaram em ironias e acusações no debate promovido pela RedeTV na noite de sexta-feira, dia 3.

Major Olímpio (SD), por exemplo, surpreendeu João Doria (PSDB) logo no primeiro bloco ao perguntar ao tucano qual a sua política em relação ao funcionalismo público.

Referia-se ao descaso do governo do Estado nesta área.

“A sigla PSDB significa Pior Salário do Brasil”, ironizou o ex-policial militar e atual deputado federal. Olímpio chegou a comparar a política de investimento no serviço público de Geraldo Alckmin, padrinho de Doria, ao PCC, “com a diferença que o PCC acaba com a vida da pessoa de uma vez e o seu partido vai matando aos poucos”.

Pego de surpresa, Doria desconversou, alegando que respeita o funcionalismo, gosta das pessoas e construiu a sua reputação como empresário com serenidade – “e não com a falta dela”.

A serenidade que sobrou com Olímpio o candidato do PSDB acabou economizando com Marta.

Primeiro lembrou a candidata do PMDB qual a expressão que o seu candidato a vice, Andrea Matarazzo, usou para defini-la quando foi prefeita entre 2001 e 2004: “Nefasta”.

Em seguida acusou Marta de ter quebrado a cidade. E tocou num ponto que a ex-prefeita detesta. “Marta, você recebeu o apelido de Martaxa, a Rainha das Taxas. Foi uma prefeita tão ruim que sequer conseguiu se reeleger”.

Marta repetiu o que vem dizendo no programa eleitoral todos os dias. Que se arrepende da derrama de taxas – lixo, iluminação e fiscalização de empresas, desconsiderando as que a Câmara de vereadores conseguiu barrar, como a emblemática taxa da coxinha, que propunha cobrar imposto das mulheres que trabalham em casa enrolando salgadinho.

Marta também sofreu ataques de Luíza Erundina (Psol), que lembrou a sua saída do PT para se abraçar com um governante machista e usurpador como Michel Temer.

Mais uma vez a candidata do PMDB tergiversou, colocando a culpa em Dilma e alegando que a presidente derrubada colocou o país na “pior crise econômica da nossa história”.

Erundina também chamou Fernando Haddad (PT) para a briga, lembrando que ele hesitou em chamar o afastamento de Dilma de “golpe”.

O prefeito explicou que fez uma distinção entre o golpe militar de 1964 deste “novo tipo de golpe de caráter institucional”.

“Veja o que o Senado decidiu esta semana: decidiu afastar a presidenta Dilma, mas manter os seus direitos políticos”, disse Haddad. “Ou seja, o Senado assumiu o afastamento, reconhecendo que não houve crime por parte da presidenta”.

“Ficou mal para você”, ironizou Erundina, que acabou recebendo uma alfinetada do prefeito. “Mas eu não mudo de partido a cada cinco anos. Há 30 estou no PT”, disse Haddad, que pediu à candidata do Psol respeito à sua trajetória política. “Esse tipo de acusação serve apenas para dividir o campo popular e dar mais espaço à direita. É uma postura divisionista que não leva a lugar nenhum”.

Haddad trocou farpas com João Doria sem ter tido a oportunidade de um confronto direto com o tucano, e ainda tentou pegar Russomanno, mas este, não se sabe se pela burrice ou pela inteligência superior, ninguém consegue pegar: menos sonolento desta vez, o líder nas pesquisas passou ileso, com respostas e perguntas que ninguém consegue entender.

A melhor síntese do debate acabou vindo da boca de Fernando Haddad.

É a de que os candidatos têm pouquíssimas propostas, nenhuma ideia nova e todos desconsideram que as soluções para uma cidade tão complexa exigem tempo de maturação.

O prefeito parece mesmo ter razão: afinal, difícil crer no cartão mágico de Russomanno, tampouco na exdrúxula ideia de Doria de alugar hospitais particulares para atender os pobres na madrugada.

É por muitas vezes apoiar bobagens assim que chegamos onde chegamos: uma cidade caótica e injusta. Até quando?

 

Jose Cassio

JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo

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