
Em seu mais recente livro “Alfabeto das Colisões”, Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP, afirma que a esquerda morreu e que a extrema direita é a única força real no país. Ele ainda destaca que a vitória do presidente Lula (PT) foi apenas um “respiro”, enquanto a extrema direita permanece forte.
“A extrema direita é hoje a única força política real do país, porque é a força que tem capacidade de ruptura, tem estrutura e coesão ideológica”, diz Safatle. “A esquerda brasileira morreu como esquerda”.
Segundo sua visão, o que existe atualmente é uma “constelação de progressismos, mas sem aquilo que constituía o campo fundamental da esquerda, que são as ideias de igualdade radical e de soberania popular”.
Safatle argumenta que as pautas progressistas perderam a ambição por uma transformação estrutural da sociedade, que antes incluía a busca por igualdade nos processos de produção e alguma forma de democracia direta. “Hoje não se coloca nada parecido com isso”, ressalta o filósofo.

Ele observa ainda que a esquerda ganhou apenas tempo, enquanto a extrema direita permanece forte e mobilizada.
Para Safatle, o problema se desdobra em dois níveis. No primeiro, Lula continua atuando como um negociador político, tentando estabilizar uma situação de crise profunda em um país dividido. Porém, segundo o filósofo, esse tipo de pacto já não é viável em uma nação tão polarizada.
No segundo nível, o problema é mais profundo e relaciona-se à capacidade de análise da realidade e de propor soluções para os desafios sociais. Safatle argumenta que a luta contra a extrema direita muitas vezes leva à legitimização de alianças políticas que implicam a renúncia a princípios históricos da esquerda.