Saga de moradores sem luz há 80h em SP tem até “sequestro”

Nos últimos quatro dias, um edifício situado no Condomínio In Trianon, na região da Vila Prudente, Zona Leste de São Paulo, passou por uma situação angustiante devido à falta de energia. Enquanto as outras três torres do condomínio e a vizinhança tiveram a eletricidade restaurada desde o sábado (4), um prédio na Av. Dr. Francisco Mesquita, no Jd. Ibitirama, ficou no escuro.

A luz só retornou na noite de segunda-feira (6), após 80 horas, depois que aproximadamente 40 moradores bloquearem a Avenida do Estado em frente ao prédio e “sequestrarem” uma equipe de técnicos da concessionária de energia. Eles mantiveram a equipe retida até que o problema fosse solucionado. A informação foi divulgada pelo G1.

Além da falta de luz, os moradores foram perturbados na madrugada de sábado (4) para domingo (5) por um incidente em que uma moradora gritou que um dos apartamentos estava pegando fogo. Felizmente, ninguém ficou ferido, e o incêndio causado por uma vela foi extinto por um vizinho.

Quem gritava era a esposa do Clóvis Gomes de Andrade. “Minha esposa saiu gritando que estava pegando fogo no apartamento. Como a porta estava aberta, um dos vizinhos conseguiu entrar e apagou o princípio de incêndio causado por uma vela. Não sabemos onde a pessoa estava, suspeitamos que tinha descido do apartamento para pegar água”, afirmou Clóvis.

A falta de energia persistente levou os moradores a procurar soluções alternativas, incluindo a possibilidade de contratar um suposto funcionário da empresa de energia que se ofereceu para resolver o problema “por fora”, mediante pagamento de R$ 3 mil.

Parte dos condôminos logo se mobilizou para fazer uma “vaquinha” e ratear entre os que estavam no escuro, o dinheiro da propina.

“No desespero, muita gente se propôs a colaborar. Mas virou uma guerra no escuro, porque muitos como eu achavam que, se fosse um “gato” no poste, o prédio poderia ser multado alto e a falta de luz virar uma dor de cabeça ainda mais cara”, contou o morador Anderson Oliveira.

Somente por volta das 18h de segunda-feira (6), uma equipe da Enel apareceu no prédio, inicialmente para resolver um problema em um dos imóveis que estava fechado. No entanto, os funcionários informaram que não poderiam solucionar o problema coletivo e que era necessária uma equipe mais especializada.

Diante dessa resposta, os moradores decidiram ‘sequestrar’ a equipe da Enel, fechando a rua e impedindo que o caminhão da empresa fosse embora. A polícia foi chamada e mediou as negociações, que duraram várias horas, até que outro caminhão da Enel chegasse ao local. A energia foi finalmente restabelecida em cerca de 20 minutos.

“Umas 40 pessoas desceram e resolveram fechar a rua e impedir que o caminhão da Enel fosse embora. Logo encostou a polícia e começou a negociar a liberação da equipe e da via. Foram umas 3 ou 4 horas de conversa, que só terminou com o compromisso intermediado pela polícia, de que outro caminhão encostaria no prédio em seguida”, lembrou Anderson Oliveira.

Após quatro dias de escuridão e protestos, os moradores, emocionalmente exaustos, expressaram a sensação de abandono pelo Poder Público e a preocupação com o controle privado da energia elétrica na cidade de São Paulo.

“80h depois, a luz voltou. Foram 5 horas de protesto num frio terrível. Foi um inferno que agora acabou. Agora é colher os cacos e seguir a vida. A sensação é a de que a cidade de São Paulo está abandonada. E o Poder Público nas mãos da Enel e do capital privado”, lamentou Anderson.