Sakamoto: Alvo de elite tacanha, Bolsa Família ajuda a tirar Brasil do mapa da fome

Atualizado em 28 de julho de 2025 às 22:45
Dinheiro e cartão do bolsa família. Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

O Brasil saiu do mapa da fome, segundo o relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo”, divulgado nesta segunda (28), pela FAO, a agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Isso não significa que não exista fome no país, mas que ela representa menos de 2,5% da população.

Um dos elementos apontados foi a renovação de investimentos em políticas sociais, com impacto direto na redução da fome e da insegurança alimentar. Segundo a ONU, ela teve especial importância para a superação da crise alimentar pós-pandemia de covid-19.

No triênio analisado (2022 a 2024), os programas sociais tiveram aumento no que é pago por família —o que começou no Auxílio Brasil e se estendeu com os R$ 150 pagos a mais por cada criança de até seis anos no Bolsa Família. Também houve melhora no Cadastro Único e obrigação de cumprir condicionantes de saúde e educação.

A importância do nosso principal programa de transferência de renda contrasta com o comportamento tacanho de parte do empresariado nacional, que tenta vendê-lo como um estímulo à vagabundagem.

Isso, claro, não resiste a uma ducha de realidade: a taxa de desocupação hoje é menor do que há dez anos, quando o valor pago pelo Bolsa Família era bem menor.

Fachada do IBGE. Foto: Reprodução

O desemprego estava em baixos 6,2%, no trimestre terminado em maio, segundo o IBGE. E a quantidade de trabalhadores CLT atingiu novo recorde, chegando a 39,8 milhões, uma alta de 3,7% em relação ao ano anterior.

Com isso, neste mês de julho, cerca de um milhão de famílias deixaram o Bolsa Família por terem aumentado a sua faixa de renda. Dessas, 536 mil famílias cumpriram os dois anos da regra que permite continuar recebendo metade do benefício após o aumento de renda que extrapola o limite para estar no programa.

De uma maneira geral, se está faltando gente para determinadas funções, o setor privado precisa melhorar os salários e condições que paga à base da pirâmide. E não exigir que ela aceite trabalhar por qualquer coisa ou que se corte a grana que os mais pobres ganham para não passar fome.

Ao mesmo tempo, o poder público deve combater mais fortemente a inflação, principalmente dos alimentos, que corrói o poder de compra e a qualidade de vida dos trabalhadores, ajudando a reduzir salários já insuficientes. Isso, inclusive, é um dos elementos analisados pelas Nações Unidas em seu relatório.

Bolsonaro chorando em culto com a tornozeleira eletrônica. Foto: Gabriela Biló

A ideia de que o Bolsa provoca falta de mão de obra foi bombada por políticos por anos a fio. Por exemplo, quando deputado federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro vinculou o recebimento do programa à vagabundagem. “O Bolsa Família é uma mentira, você não consegue uma pessoa no Nordeste para trabalhar na sua casa. Porque, se for trabalhar, perde o Bolsa Família”, afirmou em entrevista à Record News, em 2012.

Uma preconceituosa matriz de interpretação do mundo considera que o programa é uma “fábrica inútil de produtores de filhos”, porque é assim que Bolsonaro e uma parcela do país enxergam os pobres: um grupo interesseiro que, diante da oferta de uns caraminguás, prefere parar de trabalhar.

A esmagadora maioria dos beneficiários do Bolsa trabalha, sim, e não quer passar fome, mas precisa de uma mãozinha para viver enquanto isso não é possível —afinal, nem todos tiveram acesso a herança ou a oportunidades de educação de qualidade.

Os que preferem viver na pobreza, recebendo benefício, em vez de buscarem serviço, são um ínfimo grupo. Vale lembrar que o valor médio do Bolsa pago em julho foi de R$ 671,52, o que pode matar a fome, mas não resolve a vida.