Sakamoto: Ato bolsonarista encolhe após Lula e Trump trocarem contatinhos

Atualizado em 8 de outubro de 2025 às 6:21
Baixo público na caminhada pela anistia em Brasília. Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Ninguém esperava algo impávido e colossal após os grandes protestos contrários à PEC da Blindagem e ao PL da Anistia, mas o tamanho diminuto do ato bolsonarista em Brasília, nesta terça (7), surpreendeu. Quem foi com a esperança de que a multidão pudesse pressionar o Congresso Nacional, broxou.

O cortejo de extrema-direita que atravessou a Esplanada dos Ministérios, nesta terça (7), era menor que muitos bloquinhos de Carnaval. E com uma fantasia menos engraçada: a impunidade a Jair Bolsonaro, seus comparsas e buchas de canhão por tentarem um golpe de Estado. Mas ele também atacou o ministro Alexandre de Moraes, os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, além do presidente Lula.

É claro que as centenas de almas que atenderam ao chamado não fazem jus à força do bolsonarismo, que ainda conta com milhões de adeptos em todo o país. Mas diz muito sobre o cálculo político de suas lideranças, que, mais do que aprovar uma lei impossível, tentam manter os seguidores unidos e excitados em torno de um propósito, apesar das notícias negativas.

E a pior delas foi o flerte entre Lula e Trump. Pode ser que ele não dê em nada, mas a troca de contatinhos e demais declarações respeitosas dadas por ambos mostra o óbvio: que Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo não têm o monopólio da atenção da Casa Branca.

E, no melhor estilo da peça Perdoa-me por me traíres, de Nelson Rodrigues, não tivemos bandeirão dos EUA, mas bolsonaristas marchando enrolados como um taco na Star-Spangled Banner, pedindo para que Trump os salvasse do comunismo.

Ou seja, as lideranças sabem que aprovar uma anistia ampla, geral e irrestrita é impossível. Mesmo uma redução considerável da pena de Jair é irreal. A preocupação agora é não perder a influência sobre o rebanho. E, para tanto, ele precisa ser entretido e alimentado.

É um erro confundir o esvaziamento com o fim, pois a redução de público é conjuntural, dada a maré negativa de notícias para a extrema-direita. No dia em que Jair for preso, por exemplo, pode ser o caos. E os “herdeiros” disso estavam lá: o senador Flávio Bolsonaro, o deputado Nikolas Ferreira e a diretora do PL Mulher, Michelle Bolsonaro.

Mas há um detalhe que os estrategistas da oposição fingem ignorar: a fadiga. O mesmo discurso inflamado que, há alguns anos, fazia tremer o asfalto da Paulista, hoje ecoa vazio entre barraquinhas de milho e bandeiras desbotadas. A promessa de “voltar ao poder” soa mais como lamento do que como plano. Mesmo entre os mais fiéis, há quem perceba que a era das grandes motociatas ficou para trás e que a política, como o desejo, esfria quando não encontra reciprocidade.

Enquanto isso, Lula e Trump (dois personagens que jamais dividirão um palanque, mas entendem de instinto de sobrevivência) seguem jogando xadrez em tabuleiros diferentes. Ao menor aceno entre eles, o bolsonarismo se vê órfão da narrativa de que só o clã Bolsonaro tinha linha direta com o poder norte-americano. E, sem essa fantasia, resta apenas o eco de um movimento que já foi massa e agora está em momento de miragem.

Lula e Donald Trump. Foto: Reprodução