Sakamoto: Bet da Caixa é taxação de pobres, Lula tem razão em bloquear

Atualizado em 26 de outubro de 2025 às 20:08
Imagem ilustrativa. Foto: Divulgação

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Lula tem razão em ficar irritado com o anúncio de que a Caixa Econômica Federal quer lançar uma bet própria. Se não abortar a proposta, o seu governo vai ser acusado não apenas de acender uma vela para Deus e outra para o diabo, mas de ganhar dinheiro com o Tinhoso.

Primeiro, porque o governo vem tentando aprovar uma necessária transferência de renda de ricos para pobres (isenção de IR para quem ganha menos de R$ 5 mil + taxação de pelo menos 10% para quem ganha mais de R$ 600 mil por ano). Enquanto as bets se consolidaram como um dos mais perversos mecanismos de transferência de renda de pobres para ricos do país.

Além disso, o próprio Lula e o ministro da Fazenda Fernando Haddad vêm frisando a necessidade de aumentar a taxação sobre as casas de apostas, o que foi impedido pela oposição e pelo centrão no Congresso Nacional.

De acordo com o presidente do banco, Carlos Vieira, o objetivo seria arrecadar até R$ 2,5 bilhões em 2026. Em outras palavras, tirar R$ 2,5 bilhões do bolso dos trabalhadores. Carla Araújo, colunista do UOL, apurou que, ao voltar da viagem à Ásia, Lula vai mandar cancelar. A Caixa é administrada pelo centrão, tendo o seu chefe indicado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL).

“Ah, mas a Caixa já administra loterias.” Não é possível comparar bets às outras administradas pelo poder público. Esse cassino digital se vale da ilusão de que é fácil ganhar para viciar brasileiros, que deixam salários, mensalidades escolares, grana do remédio e da comida com as empresas privadas. Na MegaSena, qualquer pessoa faz sua fé sabendo que é mais fácil um meteoro atingir a cabeça do que acertar nas seis dezenas (uma chance em 50 milhões). Já muitos acham que bet é investimento.

Talão da MegaSena. Foto: Divulgação

Deveríamos estar aprovando, neste momento, além do aumento da taxação às bets para bancar o tratamento de viciados em jogos pelo SUS, a proibição completa de anúncios e propagandas da jogatina. Mas o lobby desse pessoal é poderoso, e vai do Congresso à mídia, passando por influenciadores e o futebol.

A regulamentação dessa atividade foi mamão com açúcar para as empresas, com gestores mostrando-se satisfeitos com os bilhões que entrariam de impostos. Ignoraram os alertas de que o cascalho arrecadado não iria fazer cócegas diante dos gastos com atendimento aos viciados no jogo.

O resultado tem sido famílias destruídas por dívidas acumuladas em apostas perdidas, histórias de violência doméstica ligadas ao vício em jogos se multiplicam e jovens seduzidos por uma lógica perversa que substitui o trabalho pelo golpe de sorte. As bets não são um entretenimento inofensivo, mas uma máquina de moer gente, especialmente em um país onde a educação financeira é precária e a desigualdade, abissal.

O Estado brasileiro demora para proibir anúncios de bets e para aumentar os impostos contra elas, o jogo segue rolando. Agora, o principal banco público brasileiro quer tirar sua lasquinha dos pobres. Piada, mas soa como sadismo.