Sakamoto: Bolsonaristas atacam Trump ao entenderem o que significa ‘America First’

Atualizado em 13 de dezembro de 2025 às 10:20
Bandeira dos EUA em ato bolsonarista na avenida Paulista. Foto: Eduardo Knapp/Folhapress

Por Leonardo Sakamoto, no Uol

O bolsonarismo poderia se juntar ao campo democrático na luta por um ensino básico melhor e mais atraente. Talvez assim, eles não teriam faltado às aulas de inglês e saberiam o que significam as expressões “America First” e “Make America Great Again”, usadas por Donald Trump para expressar a natureza de sua política. Mas como não fizeram isso, estamos vendo um rosário de lamentações de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais.

Como não gosto de acender vela a quem defendia trair o próprio país para salvar o pescoço de um condenado por tentativa de golpe, falo dos milagres sem citar os santos. Há deputado da extrema direita que postou estar decepcionado com Trump porque, ao final, ele só queria negociar (Ah, vá! Jura?). Outro senador que reclamou que o norte-americano preferiu reduzir a inflação da comida nos EUA com a redução das tarifas aos nossos produtos – ignorando que ele é, veja só, presidente do povo dos EUA. Outro parlamentar basicamente disse que Trump se tornava cúmplice dos crimes cometidos no Brasil.

Isso sem contar políticos com outros mandatos. Um vereador defendeu uma moção de repúdio. Trump persona non grata em uma balneário turístico? E os políticos sem mandato. Há um bolsonarista que disse que Lula cumpre mais a palavra que Trump. Sextei quando vi essa, aliás.

Quando Trump anunciou uma taxa de importação a 50% dos produtos brasileiros importados por seu país e, depois, impôs as sanções da lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes, relator da ação por golpe, avisamos aqui que ele usava o ex-presidente como instrumento para justificar suas ações e forçar o Brasil a negociar política e economicamente.

Eduardo Bolsonaro e Donald Trump. Foto: reprodução

A traição do deputado federal Eduardo Bolsonaro deu ao norte-americano os instrumentos e a narrativa para isso. Não era pelos olhos azuis de Jair.

Mas a partir do momento em que Trump percebeu que precisava baixar o preço da carne, do café, das frutas, da comida em geral, começou a negociar. E na hora em que conheceu Lula e gostou da trajetória do petista (que foi perseguido, preso e deu a volta por cima) e viu que é ele quem está com o poder no Brasil, e não o bolsonarismo, mudou o rumo.

O que não mudou foi a punição de Jair por tentativa de golpe. Os EUA deram uma saída mandrake, dizendo que dosimetria é anistia e botaram uma pedra em cima. Mas ainda faltam várias tarifas serem removidas, ou seja, tá com cacife alto ainda para poder negociar uma série de coisas por aqui – de plataformas digitais a terras raras. Sim, o Brasil perde receitas e empregos devido a um grupo de brasileiros que não aceitou a derrota nas eleições e tentou um golpe de Estado.

Para Lula, tudo isso foi um grande presente. Não apenas ele ganhou pontos se apresentando como patriota enquanto o bolsonarismo ficou com a pecha de entreguista, como, ao final, abriu um canal de comunicação privilegiado com o próprio Trump. Quem foi subserviente, e meteu o boné MAGA na cabeça aqui no Brasil, é que vai ter que se justificar com seu eleitorado.

Um bolsonarista lamentou ontem nas redes que milhares desfraldaram uma bandeira gigante dos Estados Unidos em plena celebração do 7 de setembro, a Independência do Brasil, gritando a plenos pulmões o nome de Donald Trump.

Esse é o momento que ficará marcado como o mais humilhante de todo esse processo. Foi um ato inédito em nível de subserviência. Tudo à toa.

Agora os traidores do Brasil chamam Trump de traidor. O mundo não gira, capota.