Sakamoto: Bolsonaristas tentam golpe no Legislativo para dar golpe no Judiciário

Atualizado em 5 de agosto de 2025 às 18:14
A oposição ocupou a mesa da Câmara e do Senado. Eles usam fita adesiva na boca para se referir à prisão domiciliar de Bolsonaro. Foto: Felipe Pereira/UOL

Por Leonardo Sakamoto

Sabe o que acontece quando apoiadores de golpistas se vendem como revolucionários? Poderíamos gastar milhares de caracteres discutindo isso do ponto de vista da Ciência Política, mas é mais fácil sugerir que aos leitores do UOL que vejam as cenas da invasão bolsonarista das mesas diretoras da Câmara e do Senado hoje para impedir o funcionamento no Congresso enquanto não for votado o que eles querem.

A chantagem em si, representada pela ocupação, já seria a antítese da democracia. Mas o conteúdo defendido por eles é extremamente didático para a a compreensão da natureza da ação: querem anistia a todos os que tentaram um golpe de Estado entre 2022 e 2023, o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, relator dos julgamentos dos golpistas, e o fim do foro privilegiado para garantir que os processos contra quem tentou um golpe voltem à estaca zero.

Ou seja, os bolsonaristas estão tentando dar um golpe no Poder Legislativo para poderem dar um golpe no Poder Judiciário e assim limpar a barra dos seus líderes, que tentaram dar um golpe no Poder Executivo.

Se os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e Davi Alcolumbre, não fizerem o que eles desejam, deputados e senadores da extrema direita apontam que não vão arredar o pé, impedindo a votação de temas importantes como a isenção do Imposto de Renda a quem ganha até R$ 5 mil por mês.

E prometem que, se Motta sair do país, a vice-presidência da Câmara, que está nas mãos de um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, irá colocar a anistia em votação. Se o presidente da casa aceitar isso, estará em conluio com aqueles que tentam transformar o seu mandato na Casa da Mãe Joana.

Deputados bolsonaristas com esparadrapo em protesto no Congresso. Foto: reprodução

Jair esticou propositadamente a corda da Justiça, descumprindo as cautelares impostas a ele pelo Supremo Tribunal Federal. Cavou uma decretação de prisão domiciliar, o que vem sendo usado por seus aliados para tocarem fogo no parquinho. A resposta do bolsonarismo mostra planejamento desse processo.

Para além da vitimização, que levou os bolsonaristas a invadirem novamente o Congresso Nacional (quase dois anos e sete meses após a outra invasão, de 8 de janeiro de 2023) e deve levar mais seguidores às ruas, a prisão domiciliar deve impulsionar mais sanções contra o Brasil pelos Estados Unidos — com mais ataques às instituições nacionais, mais tarifas e mais problemas aos cidadãos brasileiros.

Nesta quarta (6), passam a valer as tarifas de 50% impostas por Donald Trump aos produtos brasileiros. Mesmo com a grande lista de exceções, as punições ainda causarão desemprego e fechamento de empresas. Entre as justificativas para elas, o governo norte-americano deixou muito claro que está o julgamento a Bolsonaro.

Ou seja, na véspera do tarifaço, a extrema direita resolveu reforçar a chantagem norte-americana contra o Brasil, confirmando que sua lealdade é ao seu grupo político e seu patriotismo a uma família. E não ao país.

Publicado originalmente no Uol