
Por Leonardo Sakamoto, no UOL
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses por tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, organização criminosa armada, dano qualificado contra patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
Para efeito de comparação, o presidente Lula foi inicialmente condenado a 9 anos e 6 meses pela 13ª Vara Federal de Curitiba no processo que envolve o caso do triplex do Guarujá, pena que foi reduzida a 8 anos, 10 meses e 20 dias pelo Superior Tribunal de Justiça. Posteriormente, ele também foi condenado a 12 anos e 11 meses de prisão no caso do sítio de Atibaia. Ambos os casos tratavam de corrupção e ocorreram no âmbito da Lava Jato. Somando as duas penas finais, o resultado é de quase 22 anos.
Lula foi recolhido em 7 de abril de 2018 à carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. Naquele momento, o STF ajudou a prender o petista ao rejeitar o pedido de habeas corpus que impediria que começasse a cumprir a pena antes de esgotados todos os recursos. O general Villas Bôas fez uma inaceitável pressão para que a corte não aprovasse o HC.
Ficou por 580 dias no xilindró. Não quis sair quando foi oferecida prisão domiciliar com tornozeleira. Posteriormente, foi solto e o Supremo Tribunal Federal anulou a condenação, declarando que o então juiz Sergio Moro (flagrado combinando o futuro do réu com a acusação pelo Telegram, no que ficou conhecido como a Vaza Jato) foi parcial no julgamento. Candidatou-se em 2022 e ganhou de Bolsonaro.
Jair, condenado hoje por 4 votos a 1, vem tentando seguir os passos de Lula. Defende que o julgamento foi parcial (apesar de não existir nada que comprove isso além da sua própria narrativa) e estuda manter-se como candidato da direita até os 45 do segundo tempo, quando terá o registro indeferido por estar inelegível.
Lula fez isso com Fernando Haddad, Bolsonaro pode fazer o mesmo com um filho, a esposa Michelle ou com o governador Tarcísio de Freitas, que vem atacando o STF para reforçar sua lealdade a ele e ganhar sua benção.

O petista acreditava que faria a “jornada do herói”, descendo ao inferno e voltando em glória, e se manteria como uma pedra no sapato de dentro da cadeia.
Aliados de Bolsonaro dizem que ele está deprimido com a inevitabilidade da ordem de prisão, que deve acontecer até o final do ano. Em março, afirmou em entrevista à Marianna Holanda, da Folha de S.Paulo, que a cadeia representaria o fim de sua vida, pois já está com 70 anos. O ex-presidente tem problemas de saúde decorrentes da facada que levou em 2018, mas, tem mostrado boa disposição em motociatas e eventos com seguidores. Lula foi preso aos 72 após um tratamento de câncer.
Em entrevista em junho, Haddad afirmou que Lula não pediu anistia a ele e a nenhum petista. Muito menos pressionou o Congresso Nacional para aprová-la. Foi oferecido asilo em outros países, mas também negou, dizia que isso chancelaria sua culpa. No dia em que se entregou à Polícia Federal, disse: “Eu vou lá na barba deles, para saberem que eu não tenho medo, para saberem que eu não vou correr e para saberem que eu vou provar a minha inocência”.
Bolsonaro e aliados têm pressionado o Congresso pela anistia. Muita gente tem ajudado nesse processo: o maior lance foi do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que levantou um tarifaço ao Brasil e moveu sanções a autoridades para demover o STF de julgá-lo. O mais recente, o ministro Luiz Fux, que fez um voto político que não mudou o resultado do julgamento, mas produziu material para ajudar o bolsonarismo a aprovar o projeto. Neste momento, a oposição chantageia a sociedade, dizendo que a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês só passa se a anistia for junto.
Todas as lideranças políticas têm seus pecados e este texto não é para discuti-los. Mas tentar entender como elas se comportam em sua hora mais sombria. E o dano que causam à sociedade e às pessoas à sua volta quando não seguram o rojão.