Sakamoto: Bolsonaro se pirulitou para a Hungria antes de o Brasil acolher ex do Peru

Atualizado em 19 de abril de 2025 às 8:53
Nadine Heredia, a ex-primeira-dama do Peru que pediu asilo diplomático ao Brasil. Reprodução

Por Leonardo Sakamoto

A fuga do Brasil já era uma das opções do ex-presidente Jair Bolsonaro em caso de futura condenação por golpe de Estado muito antes de o governo Lula ter concedido asilo à ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia. A Justiça do seu país a condenou e a seu marido, o ex-presidente Ollanta Humala, a 15 anos de prisão por corrupção.

Em entrevista a Jamil Chade, do UOL, o chanceler Mauro Vieira disse que o critério foi humanitário e seguiu convenções internacionais. Para a discussão sobre o uso do asilo no caso de Bolsonaro, as razões importam pouco, na minha avaliação. Porque o ex-presidente já havia mostrado que, se tiver que fugir, vai dar um jeito — não importa como.

Em entrevista a Raquel Landim, também do UOL, ele disse, em novembro do ano passado: “Embaixada, pelo que vejo na história do mundo, quem se vê perseguido, pode ir para lá”.

E ele foi. Diante da apreensão de seu passaporte em 8 de fevereiro do ano passado, em meio a uma operação da PF sobre a tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente dormiu na Embaixada da Hungria, governada pela extrema-direita de Viktor Orbán, entre 12 e 14 de fevereiro.

Em 2022, o então presidente Jair Bolsonaro se encontrou com Viktor Orbán, mandatário da Hungria.

Considerando que ele não estava atrás de um bom prato de goulash húngaro nem de um Airbnb de luxo, o “mito” se escondeu com medo de um desdobramento da operação da Polícia Federal o levar para a cadeia. Na prática, houve um pocket asilo a Bolsonaro, um test drive de fuga, já que território de embaixada conta, por convenções internacionais, com imunidade.

Jair Bolsonaro na Embaixada da Hungria, em imagem em preto e branco
Jair Bolsonaro na Embaixada da Hungria – Reprodução

Além disso, Bolsonaro deixou o país em 30 de dezembro de 2022, antes mesmo de terminar seu mandato. Diz que foi para não passar a faixa presidencial, mas o plano golpista — que, segundo a denúncia, envolveu desde minuta de golpe até esquema para matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes — revela que ele tinha razão para temer ficar no Brasil e ser preso.

Com um eventual retorno de Donald Trump ao poder, ele poderia pedir asilo político aos Estados Unidos, sob a justificativa de “comandar a resistência” direto de Orlando, na Flórida. A falta de passaporte é o de menos — há outras formas de sair do país, ainda mais para alguém com recursos financeiros e políticos, como ele mesmo já deixou claro. Ir para o Paraguai ou Argentina e, de lá, para os EUA, por exemplo.

E Bolsonaro pode ficar tranquilo, pois o governo brasileiro sob Lula nunca invadiria território protegido por convenções internacionais, como fez Daniel Noboa, do Equador. Em 5 de abril de 2024, atropelando convenções internacionais, a polícia equatoriana entrou na Embaixada do México, em Quito, onde estava refugiado o ex-vice-presidente Jorge Glas, e o prendeu.

O empresário-presidente, eleito e reeleito, que governa à direita, tentou justificar o injustificável dizendo que o asilo concedido a Glas era ilegal, já que ele foi condenado a seis anos de prisão por corrupção. Na prática, foi como se território soberano de outro país tivesse sido invadido por um governo que se diz amigo. Com isso, o México cortou relações diplomáticas com o Equador e o Brasil condenou veementemente a agressão. Lula, inclusive, declarou solidariedade a Andrés Manuel López Obrador, presidente do México.

Publicado originalmente pelo autor no UOL

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