Sakamoto: Castro é pai de 4 das 5 maiores matanças policiais do RJ. E pode ir além

Atualizado em 29 de outubro de 2025 às 9:34
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL). Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

A gestão do governador Cláudio Castro (PL) foi palco de quatro das cinco operações policiais mais letais da história da região metropolitana do Rio de Janeiro. Foram 64 mortes (nesta terça, até agora) na Penha e no Alemão, 28 no Jacarezinho (em maio de 2021), 23 na Vila Cruzeiro (maio de 2022) e 16 no Complexo do Alemão (julho de 2022). Em junho de 2007, sob o governo de Sérgio Cabral, o Complexo do Alemão foi palco da morte de 19 pessoas*.

Caso Castro continue celebrando uma política fracassada de segurança pública, em que membros do governo e da polícia apresentam relações promíscuas com facções e milícias, sem um trabalho de inteligência eficaz (que inclua a integração das bases das polícias estaduais com as federais e o cruzamento de dados de segurança pública), sem cortar o fornecimento de armas ilegais, bloquear a movimentação financeira dos envolvidos, combater a lavagem de dinheiro e atingir os financiadores do crime organizado (que, não raro, moram em bairros ricos e não nas favelas), ele pode terminar o mandato gabaritando cinco de cinco.

Vale ressaltar que o governador também conta com a paternidade de uma matança com 13 mortos em São Gonçalo e Salgueiro, em março de 2023, e outra com 12 em Itaguaí e Vila Ibirapitanga, em outubro de 2020 (quando era governador interino).

Apesar de seu antecessor, Wilson Witzel, ter prometido, em novembro de 2018, “mirar na cabecinha… e fogo!”, é Castro quem tem apertado mais o gatilho.

O recorde anterior da maior matança policial havia sido obtido apenas cinco dias após ele tomar posse formalmente no comando do estado, em maio de 2021. No total, 27 moradores e um policial civil foram mortos em uma ação violenta que ficou conhecida como a Chacina do Jacarezinho. Na época, o delegado responsável pela operação afirmou em coletiva à imprensa: “Não tem nenhum suspeito aqui. A gente tem criminoso, homicida e traficante”, atropelando a presunção de inocência.

A política letal de Castro oferece a uma parte do eleitorado a falsa impressão de que está gerando paz com mortes.

Policiais durante operação no Complexo da Penha, no Rio, na manhã de hoje (28)
Policiais durante operação no Complexo da Penha, no Rio. Foto: Mauro Pimentel / AFP

Ninguém aqui está defendendo o crime, muito menos sequestradores, ladrões e traficantes. Mas parte da população, apavorada pelo discurso do medo, mais do que pela violência em si, tem adotado a triste opção de ver o Estado de Direito com nojo, dando espaço para ações pirotécnicas em contraponto à necessidade de aprovar leis no Congresso Nacional contra facções e de adotar um sistema nacional de segurança pública.

Não é novidade que, após chacinas cometidas pela polícia ou pela milícia no Rio de Janeiro, perfis extremistas nas redes sociais celebrem efusivamente as mortes. Essa falta de respeito à Justiça e o apoio ao justiçamento com as próprias mãos são o mesmo motor que alimentou a insurreição contra as instituições democráticas.

A ideologia que substitui a política e a justiça pela violência como forma de resolver conflitos deixa uma montanha de corpos em comunidades como a Penha, o Alemão, o Jacarezinho e a Vila Cruzeiro. Mas também tem o poder de reclamar o cadáver da democracia, como vimos no final de 2022 e no começo de 2023. Não à toa, é a mesma turma, do mesmo partido, o PL.

Se não renunciar em abril para tentar o Senado Federal e resolver terminar o mandato, Castro terá 14 meses (429 dias) para tentar fechar o pódio e ser responsável pelas cinco maiores matanças policiais.

Considerando que vem aplicando o manual da falida política de guerra às drogas (que não foi capaz de acabar com as facções, muito pelo contrário), em vez de priorizar ações estruturais que melhorem a qualidade de vida nas comunidades, garantam educação e emprego aos jovens e dignidade às forças policiais, ele pode entrar para a História.

(*) Os dados foram organizados pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense e não incluem as chacinas realizadas por policiais em grupos de extermínio ou milícias. Ou seja, só as matanças oficiais, em nome do Estado.