Sakamoto: Com Flávio ungido, Tarcísio bateu em Moraes e vestiu boné de Trump à toa?

Atualizado em 5 de dezembro de 2025 às 18:27
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, usando boné com o slogan ‘Make American Great Again’. Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Jair Bolsonaro ungiu seu primogênito, Flávio, como aquele que vai disputar com Lula a Presidência da República no ano que vem — segundo o próprio. Caso isso se mantenha até a eleição (lembre-se, o Brasil não é para amadores, pode ser, portanto, só uma jogada), o governador Tarcísio de Freitas, que melhor aparecia nas pesquisas de intenção de voto entre os nomes da direita, terá batido no STF e vestido o boné de Trump à toa.

A Bolsa Valores caiu e o dólar subiu hoje porque, em grande parte, a Faria Lima ficou titi sem o seu preferido. O centrão, que não queria nem um Bolsonaro como vice, também ficou chupando dedo e vai rachar – entre os que querem ir de Lula e os que vão com o clã. E a primeira-dama, Michelle, que havia ganhado a Batalha do Ceará não disputará a Guerra pelo Planalto.

“É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação”, disse o filho 01 no X.

Tarcísio foi avisado pelo próprio Flávio antes do anúncio público.

Para consolidar a sua candidatura à Presidência, o governador de São Paulo vinha se apresentando como um pastiche do padrinho. Questionou a credibilidade da Justiça (para um governador que precisa cumprir decisões judiciais e contratos, isso é preocupante), bateu no Supremo Tribunal Federal, chamou o ministro Alexandre de Moraes de tirano, incitou a turba bolsonarista contra as instituições em carro de som na avenida Paulista.

Contava com a ajuda de parte da imprensa e do mercado, que insistiam em dizer que ele é moderado e que tudo isso era tática. Claro que Tarcísio não é originalmente de extrema direita, mas o que importa nessa vida é o efeito prático de nossas ações, não as intenções. E o efeito prático de atacar as instituições para amealhar votos é a mesma de bater nelas para se manter no poder perdendo as eleições.

Quando Donald Trump assumiu o governo dos EUA, em janeiro, Tarcísio vestiu um boné vermelho com o lema do republicano – Make America Great Again (Faça a América Grande de Novo). E, em julho, abraçou Trump novamente ao compartilhar uma postagem dele com apoio a Jair e crítica ao STF e ao TSE. Logo na sequência veio o tarifaço e as sanções às instituições. A porrada dos EUA contra o Brasil, incitada pelo bolsonarismo, ajudou a melhorar a imagem de Lula, como defensor dos interesses do país.

Mesmo como tudo isso, o governador ainda é visto como um oportunista pelo bolsonarismo-raiz que não costuma usar garfo e faca. E continuou a ser criticado pelo deputado Eduardo Bolsonaro, que afirma não confiar nele.

Eduardo Bolsonaro em evento nos EUA. Foto: Mandel Ngam/AFP

Mais do que a liberdade do ex-presidente, está em disputa quem controla a direita no Brasil. Se Jair entregar o seu destino ao governador, pode estar transferindo também a sua influência, mesmo que seja convencido de que ele continuará leal mesmo eleito. Afinal, o rei que não tem perspectiva de poder passa a coroa adiante, que não tem a obrigação de obedecer a quem foi deposto, apenas incensar a sua memória.

Por via das dúvidas, o rei está (neste momento, tudo pode mudar) passando a coroa a seu filho mais velho, para manter o poder no clã e viva a chance de ser tirado da cadeia antes do prazo. Se vai dar certo, ou seja, se Flávio conseguirá aglutinar a direita, ter apoio de parte considerável do centrão, deixar as denúncias de rachadinha para atrás e receber votos do público independente que define eleições, saberemos em outubro.