
Por Leonardo Sakamoto, no UOL
Após o Ministério da Saúde ter confirmado duas mortes em São Paulo por ingestão de bebidas contaminadas por metanol, o governador Tarcísio de Freitas resolveu usar o deboche como política pública. Em coletiva à imprensa ontem, afirmou: “No dia em que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar. Ainda bem que ainda não chegaram nesse ponto”.
Se duas crianças tivessem sido mortas e várias outras ficassem feridas em uma escola por um atirador, o governador também diria: “No dia em que eu tiver filhos, eu vou me preocupar”?
“Aiiiii, mas era só uma brincadeeeeira”, correram muitos a justificar nas redes. Com 12 óbitos em investigação, 17 casos confirmados de intoxicação, mais de 200 notificações relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, o povo com medo de abrir uma garrafa de destilado e uma crise econômica se instalando no setor de bares e restaurantes, precisamos de adultos na sala.
No momento em que pronunciou a frase infeliz, Tarcísio narrava uma reunião que teve com empresas do ramo de bebidas, explicando que não conhecia muito bem a área. Em outras ocasiões, ele já havia dito a jornalistas que não bebe álcool. Mas se o objetivo do governador era contar pontos com uma parcela abstêmia do eleitorado, ele errou feio, errou rude.
Crises que deixam em pânico a população precisam de uma comunicação objetiva, direta e clara. Não de opiniões, gracejos ou piadas. O que queremos do governador não é deboche, mas os nomes dos culpados e a normalização da situação.
A atual crise de contaminação das bebidas é muito mais séria do que se pode imaginar. Uma sociedade consegue conviver desconfiando do poder político e do poder econômico. Mas uma sociedade que não sabe se aquilo que come ou bebe pode matar leva à erosão das relações sociais. Você deixa de confiar naquilo que é mais básico para nos manter unidos. E isso não é brincadeira.
Ele não precisava ter dito o que disse. Foi tão fora de prumo quanto colocar um boné Make America Great Again para festejar a posse de Donald Trump e depois passar pano para os ataques do norte-americano ao Brasil, de olho na bênção do padrinho Bolsonaro. Dessa forma, atravessando a rua para escorregar em uma casca de banana que estava na outra calçada, o próprio Tarcísio vai se colocando como grande adversário de si mesmo.
Assista abaixo:
Tarcísio ZOMBA da intoxicação por metanol ao dizer que quando a Coca for adulterada, aí sim ele vai começar a se preocupar.
Nem os membros do seu governo riram, tamanho a infelicidade.
Tarcísio não tem porte para lidar com uma crise como essa. pic.twitter.com/LrkGbdC2sa
— Guilherme Cortez (@cortezpsol) October 6, 2025