Sakamoto: defesa de golpe por empresários acende temor por doação ilegal a Bolsonaro

Atualizado em 19 de agosto de 2022 às 16:09
Luciano Hang e Bolsonaro
Foto: Marcos Corrêa/PR

Por Leonardo Sakamoto

Ricos empresários bolsonaristas defendendo golpe de Estado em caso de vitória de Lula em seu grupo de WhatsApp não é apenas um ataque bizarro à democracia, mas um clichê terrível.

A reportagem de Guilherme Amado, Bruna Lima e Edoardo Ghirotto, no portal Metrópoles, que mostrou as entranhas do grupo “Empresários & Política”, é fundamental, pois confirma que uma parte da elite econômica está agarrada ao capitão não apenas por pragmatismo, mas por cumplicidade ao seu golpismo.

“Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, afirmou José Koury, dono do Barra World Shopping.

Ganhou apoio de Afrânio Barreira, dono do Coco Bambu. E um comentário de André Tissot, do Grupo Sierra, dizendo que “o golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo”.

Koury se justificou dizendo que “vivemos numa democracia e posso manifestar minha opinião com toda liberdade”. Ou seja, por estar em uma democracia, acredita que pode ter a liberdade de atacar a própria democracia.

Basicamente apela para o “paradoxo da tolerância”. Se uma sociedade tolerante aceita a intolerância como parte da liberdade de expressão ela pode vir a ser destruída pelos intolerantes. Como analisou o filósofo Karl Popper, a liberdade irrestrita leva ao fim da liberdade da mesma forma que a tolerância irrestrita pode levar ao fim da tolerância.

A estratégia é largamente usada por Jair, que defende o “direito” de contar mentiras sobre o sistema brasileiro de votação, pilar da democracia, em nome da liberdade garantida pela democracia.

No caso do presidente e dos empresários isso é bem mais preocupante que cidadãos comuns porque eles têm recursos para implementar seus pontos de vista.

Declarações reacendem preocupação por doações ilegais e voto de cabresto

O episódio traz ao menos uma lição e um alerta.

A lição é para quem defendeu que o (necessário) manifesto encabeçado pela Fiesp, que reuniu uma parte importante do empresariado nacional para defender a democracia, afastava o golpismo por parte da elite.

Esta coluna já havia lembrado que os empresários bolsonaristas são numerosos, engajados, articulados e endinheirados. Além dos já citados, o grupo de zap reúne também Luciano Hang (Havan), José Isaac Peres (Multiplan), Ivan Wrobel (W3 Engenharia), Marco Aurélio Raymundo, o Morongo (Mormaii), Meyer Nigri (Tecnisa), entre outros.

Já o alerta diz respeito à necessidade de monitorar eventuais apoios que possam ser dados de forma ilegal para a reeleição do presidente.

Nada impede que, como pessoas físicas, empresários doem à campanha de Bolsonaro, nos limites estabelecidos pela lei eleitoral e de forma registrada. Isso não inclui, contudo, bancar o impulsionamento de conteúdos contra adversários ou disparos em massa de mensagens, como ocorreu em 2018.

Tampouco tentar comprar o voto de funcionários, como apareceu no próprio grupo de WhatsApp, com uma sugestão de que empresários pagassem bônus aos empregados que votassem alinhados a eles. Em 2018, aliás, Luciano Hang foi denunciado pelo Ministério Público do Trabalho por tentar influenciar o voto de seus empregados.

No ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral manteve o mandato de Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão, apesar de reconhecer que disparos em massa foram feitos contra seus adversários via WhatsApp na eleição em que foi eleito. O atual presidente da corte, ministro Alexandre de Moraes, avisou que, se isso ocorrer em 2022, irá mandar os responsáveis “para a cadeia por atentarem contra as eleições e a democracia no Brasil”.

Por fim, o grupo bolsonarista também ajuda a explicar a raiva de Jair Bolsonaro dos ricos empresários que assinaram a carta da Faculdade de Direito da USP e o manifesto da Fiesp em prol da democracia. Ele os chamou de “mamíferos”, “caras de pau”, “sem caráter”.

Acostumado ao apoio incondicional dos integrantes do “Empresários & Política”, o presidente acreditava que todo o rico era poroso a seus ataques à urna eletrônica e ao STF e suas ameaças à democracia. Ficou transtornado quando descobriu que o mundo era maior que um grupo de zap.

Publicado originalmente no Brasil de Fato

Participe de nosso grupo no WhatsApp clicando neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link