Sakamoto: Desânimo de fãs de Bolsonaro após condenação dá esperanças à pacificação

Atualizado em 13 de setembro de 2025 às 11:38
Jair Bolsonaro em prisão domiciliar. Foto: Reprodução/Reuters

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Logo após a condenação de Bolsonaro a 27 anos e três meses por tentativa de golpe de Estado, ocorreram algumas celebrações em vizinhanças mais progressistas, mas não rolou catarse coletiva. Por outro lado, os milhões que os bolsonaristas radicais prometiam há anos que iam forrar as ruas se ele fosse condenado não vieram. Aqui e ali, alguns gatos pingados, abraçados a bandeiras dos Estados Unidos e do Brasil. E só.

Parte alucinada dos seguidores acreditou que esse dia nunca chegaria, mas quem come com garfo e faca já esperava por ele. Em ambos os casos, há um estado de desânimo no bolsonarismo radical – que, agora, aposta suas fichas na anistia. O que é outra miragem, porque mesmo que seja aprovada no Congresso acabará derrubada pelo próprio STF. Servirá apenas para fustigar tensão entre poderes e carimbar na testa de deputados e senadores o de “Cupincha do Trump”. 

Nem no mundo online ocorreu uma revolta popular. Pelo contrário, monitoramento da Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados mostra que o termo “Grande Dia”, uma ironia da esquerda a uma expressão usada pelo próprio clã Bolsonaro, ocupou o sexto lugar nos assuntos mais falados em todo o mundo no dia do julgamento no STF. “Bolsonaro condenado” foi o oitavo.

Ato bolsonarista na Avenida Paulista no dia 07 de Setembro, em São Paulo (SP). Foto: Nelson Almeida/AFP

Não tenho dúvidas de que Jair vai arrastar muita gente no dia em que começar o cumprimento da pena em uma cela na Polícia Federal, na Papuda ou em um quartel do Exército, tal qual Lula juntou em abril de 2018, quando foi recolhido após condenação pela Lava Jato. Mas o Brasil não vai parar. Já em, caso de cumprimento de sentença em casa, nem isso, porque ele já está lá.

Aliados do presidente juram que milhões foram às ruas no Rio e em São Paulo, no Dia da Independência, para defender Bolsonaro, abraçar Trump, atacar Moraes e o STF e xingar Lula. Cascata. Foram 42,2 mil pessoas mais uma bandeirola gigante dos Estados Unidos, na avenida Paulista, e outras 42,7 mil na praia de Copacabana. Os dados são do Monitor do Debate Político da USP e do Cebrap.

Não é desprezível, mas mostra que o bolsonarismo é grande, mas não é representativo da maioria do país, que estava mais ocupado descansando ou trabalhando. E que é contra a anistia, como apontam institutos de pesquisa.

Donald Trump deve soltar mais sanções, incitado pelo traidor Eduardo Bolsonaro, mas que também não vão mudar o curso das coisas. E, nesta semana, saíram pesquisas mostrando a melhora na popularidade de Lula ao mesmo tempo que o IPCA demonstrou nova queda no preço dos alimentos, o que leva a parte dos parlamentares repensarem se vale a pena entrar em 2026 de mal com o governo federal.

Ainda vai ter muito tumulto, porque os líderes do bolsonarismo não estão preocupados com o país, mas consigo mesmos. E os herdeiros já voam como urubus em torno da figura político do ex-presidente, que ainda respira e não foi sepultado ainda, reivindicando um pedaço do seu legado eleitoral.

Mesmo com tudo isso, e como adiantamos muitas vezes aqui, uma resposta do Poder Judiciário à tentativa de golpe, e não a impunidade, seria fundamental para o início do processo de pacificação do Brasil. Ainda vai ter muito dedo no olho e gritaria, mas há sim luz no fim do túnel. E, desta vez, periga não ser um trem.