Sakamoto: dosimetria que interessa é a da taxação dos super-ricos

Atualizado em 26 de setembro de 2025 às 11:08
Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator da anistia na Câmara. Foto: Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados

Por Leonardo Sakamoto, publicado no UOL:

Vá até uma feira livre, um campo de futebol de várzea, uma igreja na periferia ou um boteco de esquina e pergunte qual deveria ser a prioridade do país. A menos que encontre um bolsonarista fanático, não irá ouvir que é a aprovação do projeto de lei da anistia ou da dosimetria de penas (no fundo, são a mesma coisa, mas um tem glitter e o outro não) para beneficiar quem tentou jogar as eleições no lixo e se manter no poder à força.

Garantir mais dinheiro aos trabalhadores e pequenos empreendedores certamente estará na lista de desejos. O Congresso Nacional tem a oportunidade de fazer isso se priorizar a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês de forma casada com a cobrança de um imposto mínimo para quem recebe mais do que R$ 50 mil por mês.

Sim, hoje quem ganha muito paga proporcionalmente menos que os trabalhadores e os pequenos empreendedores. Isso faz com que o operário com holerite de três salários mínimos pague muito mais IR do que o acionista de empresa que recebe 300 salários mínimos. Mas há deputados e senadores que, no intuito de defender os super-ricos, fazem você de trouxa, fazendo você crer que o interesse do andar de cima é também o seu.

A desconexão com a realidade das ruas chegou a tal ponto que há, na Câmara dos Deputados, quem defenda que a questão do imposto de renda seja votado apenas depois de aprovado o PL da Anistia, da Dosimetria, da Impunidade. Outros querem, descaradamente, tirar a parte que faz com que ricos paguem, pelos menos 10% de IR, quando a classe média já enfrenta alíquotas de até 27,5%. E há os que, para não deixar o governo Lula bater bumbo sobre a aprovação da proposta, querem que ela seja aprovada apenas em 2027, fazendo os trabalhadores perderem um ano de isenção.

Deputados bolsonaristas defendem anistia na Câmara. Foto: Bruno Spada/Agência Câmara

Concordo que precisamos de pacificação, mas isso vai acontecer quitando-se uma dívida histórica que o andar de cima tem com o andar de baixo – que, desde a fundação deste país, trabalha muito, ganha pouco e é o primeiro a se lascar em momentos de crise.

Quer pacificar o país de verdade? Comece fazendo rico pagar mais imposto e pobre menos.

Em tempo: É constrangedor que muitas das mesmas pessoas que defendem trancar na cadeia e jogar a chave fora um pai de família que, no desespero, se tornou um bandido ao roubar um quilo de carne, agora fique de joelhos pedindo a Deus que ilumine os congressistas para perdoar ou, ao menos, aliviar para os bandidos que tentaram um golpe de Estado. Um quilo de carne vale menos do que a democracia. Para quem respeita a democracia, claro.