Sakamoto: Eduardo Bolsonaro traiu seu país à toa após Trump parar de rasgar dinheiro

Atualizado em 17 de outubro de 2025 às 21:38
deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) com expressão pensativa, sério, no canto direito de foto
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) – Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

A ausência de Jair Bolsonaro na conversa entre o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio e o ministro das Relações Exteriores brasileiro Mauro Vieira mostra que, neste momento, o papel de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos resumiu-se ao de cabo eleitoral de Lula para 2026 e motivo de constrangimento para a Câmara dos Deputados. Sim, nunca antes na história deste país uma estratégia deu tão errado.

Rubio não gosta do petista, mas o chefe dele mandou desatar o nó com o Brasil. Quer evitar que o país e o subcontinente sul-americano se aproximem ainda mais da China, mas também ampliar o acesso a matérias-primas que os chineses lhes negaram acesso (como terras raras), baixar a inflação barateando a comida que encareceu com o tarifaço, do café à carne, melhorar as cotas de exportação de seus produtos, como etanol de milho, para cá, facilitar o negócio de grandes empresas norte-americanas no Brasil.

Em suma, aproveitar que a carne do Brasil foi amaciada pela pancada das sanções e ganhar em cima.

Vejam só que são razões alinhadas aos interesses legítimos dos EUA e não às demandas de um clã. Claro que Trump adoraria ter alguém que age como seu pet, como Javier Milei, tomando café da manhã no Palácio do Alvorada a partir de 2027. E, certamente, pode usar suas big techs e a CIA para ajudar no serviço. Mas o Brasil não se curvou à chantagem imposta pela Casa Branca (como queriam alguns entreguistas por aqui) e, apesar dos prejuízos econômicos e sociais, está seguindo em frente, vendendo carne para a Indonésia, café para a China, comprando frutas para a merenda escolar.

Javier Milei e Donald Trump em aperto de mãos
Javier Milei e Donald Trump – Reprodução
A negociação de Trump vai tirar vantagens para os Estados Unidos e, ao final, ele poderá cantar vitória como gosta de fazer. Lula também dirá que venceu, pois há grande chance de resolver a questão econômica (as sanções contra Alexandre de Moraes e família talvez leve um tempo maior para serem sanadas). Por enquanto, o grande perdedor é o clã Bolsonaro.

Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo bem que tentaram melar a reunião de Rubio e Vieira, tal como fizeram com a de Fernando Haddad com o secretário do Tesouro Scott Bessent. Mal foram atendidos desta vez, uma vez que a situação mudou. Trump resolveu parar de rasgar dinheiro.

Após a reunião amistosa de ontem, o deputado, que vendia a ideia de que Rubio como interlocutor destroçaria os emissários de Lula, passou a vender a tese de que o Brasil saiu derrotado porque não houve mudanças nas tarifas. Quer despistar que o mais importante do encontro foi o próprio encontro ocorrer e não ser colocada na mesa nenhuma demanda sobre anistia ou perdão a Bolsonaro – a principal pauta de Eduardo.

Trump é imprevisível e tudo pode acontecer, inclusive nada. Por isso, são pueris e eleitoreiras as declações de Lula dizendo que não pintou química, mas uma indústria petroquímica entre ele e o colega. Por hora, o Brasil vai negociando e se adaptando, e o governo Lula colhendo os frutos políticos de um presente dado por seus adversários. O grande perdedor até o momento é Eduardo Bolsonaro e seus assessores para assuntos aleatórios, que traíram o seu país à toa.

Enquanto isso, a Câmara dos Deputados segue sócia do tarifaço ao garantir a ele o o direito de trair o seu país. Para que PEC da Blindagem, não é mesmo?