
Por Leonardo Sakamoto, no UOL
Enquanto o governo Benjamin Netanyahu prepara a tomada da Cidade de Gaza e de todo o território, 11 pessoas morreram de fome nas últimas 24 horas, além de outras 21 procurando comida, segundo os números do serviço de saúde local. Com isso, chegou a 212 o total de óbitos por falta de alimento desde o início da invasão israelense, sendo que 98 deles de crianças.
A contagem de corpos palestinos está em 61.369, desde outubro de 2023, quando um ataque terrorista do Hamas deixou 1.139 mortos em Israel, além de 200 reféns. Neste momento, apenas o fim do cerco a Gaza e a entrada maciça de ajuda humanitária, com a participação das Nações Unidas e entidades internacionais, garantiriam a interrupção do ciclo de fome. Mas isso não deve acontecer.
Netanyahu e seus aliados ultraconservadores deram uma banana para os palestinos, outra para as famílias dos reféns e uma terceira para o resto do mundo – que ameaça reconhecer o Estado Palestina, quando já deveria ter feito isso há muito tempo, mesmo sem genocídio. E o processo de limpeza étnica continua, tentando deslocar a população de forma forçada para campos de refugiados. E, de lá, para fora.
A ideia de jerico do governo de Israel apenas prolonga o sofrimento de ambos os lados sem entregar uma solução nem para os palestinos, nem para família dos reféns. O grande beneficiado é o próprio Netanyahu, que sabe que pode ser preso por corrupção quando deixar o poder, e seus amigos extremistas, que sonham com uma Gaza só de colônia judaicas. Israel não assume, mas o controle territorial é o primeiro passo para uma anexação ou extensão de assentamentos.
Os moradores da Cidade de Gaza sabem disso e estão desafiando Tel Aviv, dizendo que não vão sair. Repetem uma frase que tenha ouvido de minhas fontes no território desde o início do atual conflito: não há lugar seguro em Gaza, então não adianta ir para lugar nenhum
Com a escalada da fome e o aviso da ocupação, países de todos os continentes, inclusive aliados, condenam a ação de Israel. Contudo, enquanto ela contar como apoio de Donald Trump, sentirá liberdade para fazer o inominável.
Os Estados Unidos, nos bastidores, pressionam o aliado, porque não querem se ver conectados ao que está por vir. Mas já estão, até o pescoço, com as armas que enviam, com o suporte geopolítico que dão, com as sanções que movem contra membros do Tribunal Penal Internacional que analisar os crimes de guerra contra Netanyahu, ao bloquar ações das Nações Unidas, ao não dar um ultimato a Israel.
A questão é se o povo dos EUA está tranquilo em ver seu país passar para a História como cúmplice deste genocídio.
